Estamos a poucos dias do Rally da Finlândia, um dos mais espectaculares,
rápidos e difíceis de todo o calendário do Mundial do WRC, conhecido pelos seus
inúmeros e longos saltos, que proporcionam imagens fantásticas, e que requer
uma grande coragem por parte dos pilotos, aliada ao famoso “kit de unhas”, que
por aquelas terras nórdicas, tem de estar sempre bem calibrado.
A Finlândia é um país com grande grade tradição nos
desportos motorizados, especialmente no rally, com inúmeros nomes consagrados a
já sentirem o “doce travo da glória”, e mesmo alguns que não conseguiram
atingir o título mundial da modalidade, deixaram para trás um legado enorme, de
qualidade e de histórias para contar. Lembro-me de H. Toivonen, para mim um dos
melhores pilotos a domar os “monstros do grupo B”, que nunca venceu um
campeonato, tendo um trágico final de vida no Rally da Córsega em 1986.
São vários os campeões do mundo, que fruto disso mesmo lhes
foi apelidado a “alcunha” de “Finlandeses Voadores”. Ari Vatanen em 1981 (Ford
Escort RS1800) foi quem abriu as hostilidades, dando inicio a uma lenda, que
ainda hoje permanece entre os amantes do rally. Hannu Mikkola (Audi Quattro)
dois anos volvidos, voltou a fazer felizes os seus compatriotas, vencendo o
mundial de rallis, numa década dourada para aquele país que viu ainda Timo
Salonen em 1985 (Peugeot 205 T16) e Juha Kankkunen em 1986 (Peugeot 205 T16) e
ainda em 1987 (Lancia Delta HF), vencerem também o mundial da modalidade, sendo
os anos 80 de “ouro” para aqueles país.
A saga dos “finlandeses voadores continuou na década de 90,
com Kankkunen a vencer mais dois campeonatos, em 1991 com o Lancia Delta
Integrale, voltado depois em 1993 á glória mas com as cores da Toyota, ao
volante do espetacular Celica Turbo.
Mas outros nomes começavam a despontar, e dar nas vistas,
como foi o caso de outra “lenda” nascida por aquelas bandas, tratasse de Tommi
Mäkinen que venceu 4 campeonatos mundiais de ralis consecutivo, desde 1996 até
1999, igualando o numero de “ceptros” conquistados por Kankkunen, tornando-se
estes dois pilotos nos grandes marcos daquele pais, e claramente dois nomes
gigantes na historia dos ralis mundiais.
A saga dos
finlandeses voadores não termina por aqui, com o início do século, outro piloto
da terra “dos saltos” já dava nas vistas, tanto deu que acabou por vencer dois
mundiais de rally, 2000 e 2002 coroaram Marcus Grönholm como campeão do mundo
de ralis, colocando o seu nome juntos dos seus ilustres compatriotas, fazendo
da Finlândia uma referência, uma autêntica fábrica de campeões.
Mas nem só de ralis se “viveu na Finlândia”, também nos
circuitos houve quem voa-se muito alto, que o diga Mika Häkkinen que venceu por
duas vezes o mundial de F1 nos anos de 1998 e 1999 colocando-se num patamar bem
elevado na classe rainha do automobilismo. Häkkinen que foi substituído em 2002
pelo seu compatriota Kimi Räikkönen no seio da McLaren, ele que mais tarde
viria também a juntar-se à lista de campeões mundiais de F1, em 2007 mas já Scuderia Ferrari.
Em todo o caso o grande pioneiro na F1 foi Keke Rosberg, o
primeiro piloto finlandês a vencer uma mundial de F1, decorria o ano de 1982,
quando aquele país nórdico pode festejar o primeiro título mundial da modalidade.
Voltando aos ralis, e num passado mais recente, o facto é
que os finlandeses continuam a marcar presença no mundial do WRC mas a verdade
é que o protagonismo de outrora já nem é o mesmo, e os “voos” também não. Mikko
Hirvonen esteve perto de juntar o seu nome ao vasto leque de compatriotas que
chegaram ao ceptro mundial, mas um tal de Loeb nunca o permitiu. Hoje o
piloto da equipa de Malcolm Wilson, vê cada vez mais longe esse sonho, e aqui
que ninguém nos ouve, nunca o conseguirá, simplesmente porque passou o seu “timing”.
Surgiu também outro “conterrâneo” de Mikko no seio da Ford,
J. M. Latvala, com verdadeiras aspirações a tornar-se “voador”.
Ele de facto voa, é rápido, dos mais rápidos que existe actualmente, mas por
vezes não chega, é que este finlandês também desde sempre se habituou a voar,
mas para fora de estrada, e isso tem lhe custado anos a fio sem se
intrometer em lutas por títulos. Hoje Latvala na Volkswagen, tem carro para
isso lutar pelo título, mas também tem um “super” Ogier para destronar. A verdade é que Jari já
bateu o francês no braço, e diga-se sinceramente, este tem “unhas” para ainda
sonhar…em se tornar um verdadeiro “Finlandês Voador”.
De todos estes pilotos referido escolherei um como o melhor de todos…Tommi
Makinen. O finlandês conseguiu vencer 24 ralli´s, 362 especiais, subindo ao
pódio por 45 vezes e vencendo o campeonato por 4 vezes, numa época em que
defrontava senhores como McRae. Burns, Marcus Grönholm, Sainz… Foram os anos de
ouro da Mistubishi, e de Makinen, com 4 campeonatos seguidos de de 96 a 99. No
meio de tanta qualidade é complicado escolher apenas um, mas a força dos números
leva a que a escolha seja esta. Não querendo tirar o grande mérito dos outros
grandes nomes referidos, vencer 4 vezes numa época em que o rally estava
recheado de grandes talentos é obra!
E o futuro?
Não são muitos os que de facto vislumbramos para dar
seguimento a esta “saga”, mas há um nome que começa a despontar por aquelas
bandas, Esapekka LAPPI. Actualmente o jovem piloto de 23 anos lidera de forma
incontestável o ERC, dá provas de poder dar o salto quem sabem para a caravana
do WRC, pois as sua performances tem sido muito reconhecidas, ainda para mais
quando falamos de um piloto que tem corrido toda a temporada com o já “cansado”
Skoda Fabia Super 2000, ao lado da concorrência que já possui máquinas de outra
valia, como os Fiesta R5 ou mesmo os 208 T16.
A verdade é que podemos estar perante uma crise de talentos
na Finlândia, onde já muito voaram, e hoje em dia apenas depositam as suas
esperanças no actual J. M. Latvala, e num futuro próximo em E. Lappi, manifestamente pouco para
a sua vasta tradição na modalidade, e para as nossas memórias, que ainda tão bem
guardam nomes como, Vatanen, Kankkunen ou mesmo Tommi Mäkinen.
Se ainda vemos finlandeses voadores? Não sei, mas que eles
existem, existem!
Na primeira pessoa…Carlos Mota.
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