Há muito que
aguardava o dia 6 de abril de 2013. Fafe-Lameirinha voltava a receber os
melhores do mundo, eu não podia perder por nada. E não perdi. Para mim foi o
maior espectáculo desportivo que já assisti ao vivo. Também marquei presença em
2012, mas no “Confurco” tudo é mágico, tudo é diferente, tudo
faz sentido. Foram 2 dias simplesmente únicos e fantásticos.
A viagem
estava marcada para depois das 16h, hora de saída do meu expediente. Foi o
melhor que consegui, a malta também tem de trabalhar. Uma hora depois de sair
do trabalho, eu, o meu irmão e o meu grande amigo Liberato, arrancamos rumo ao Santuário dos ralis – Fafe.
A primeira
sensação é sempre que nos esquecemos de alguma coisa, mas tentava pensar
positivo, “trouxe tudo estou somente ansioso”. Não foi bem assim, mas adiante.
A viagem foi
atribulada e longa. Com Fafe aqui tão perto, de repente ficou a quase duas
horas de distância. Infelizmente apanhamos vários acidentes pelo caminho, o que
nos atrasou e muito.
Chegando a
Fafe perto das 18:30h, entre estacionar o carro, relativamente perto do
nosso destino (só tivemos que andar a pé cerca de 2km até chegar ao Confurco),
e chegar à zona mítica, fez-se 19h. Já a famosa encosta estava muito bem
composta, muitas tendas montadas montanha acima, gente por todo lado, mas tudo
muito cívico, como deve ser. Estávamos ali todos pela mesma
paixão.

Subimos a
encosta e centramos as nossas atenções para um local a cerca de 40m do famoso
gancho de “entrada na terra”. Um bom local. Via-se parte da descida do Confurco
em direcção ao alcatrão. Um pedaço de história estava ali à nossa frente.
Tínhamos de
montar as tendas rapidamente antes do sol se pôr, para termos visibilidade. Foi
fácil. Mas com o abrir de mochilas fomos descobrindo algumas “peças”
importantes que tinham falhado. Uma muito importante, com tanta carne para se
assar. A grelha ficou por casa. Ainda deu para rir da situação. Com tanta gente
em volta, foi fácil arranjar um grupo que disponibilizasse “uma cozinha” para
nós.
Com umas
pinhas a ajudar, tínhamos a nossa fogueira acesa, mais uma num mar de
fogueiras. Durante a noite olhei em volta sobre o meu campo de visão e via mais
de 50 só naquele local. Uma vista única. Enquanto "tratava do estômago", ganhamos
uns vizinhos novos. Eram uns simpáticos espanhóis,
galegos para ser mais específico. Malta porreira. Por todo lado se viam
bandeiras da Galiza. De facto também lhes está no sangue a paixão pelos ralis.

A noite
caía e a serra de Fafe ficava completamente iluminada pelas dezenas de fogueiras
que se espalhavam pela encosta acima. Um cenário fantástico. Música por todo
lado. Havia tendas com discoteca, ecrãs gigantes, motos serras sem a lâmina, somente para fazer barulho. Enfim, tudo servia para fazer a festa e
animar os milhares que enchiam aquele belo estádio natural.
O clima era
de facto fantástico, facilmente se arranja conversa com toda a gente, meros
desconhecidos. Conversa puxa conversa e dava conta já tinha mais uma cerveja na
mão e uma febra na outra.
Sempre em
volta de fogueiras pois o frio era de facto de cortar. O clima acolhedor ajudava
sem dúvida a esquecer a temperatura do ar.
As idas à
procura de mais lenha eram uma constante e foi numa dessas idas
que algo de muito curioso sucedeu. Andava com uma lanterna à procura de mais
uns paus para dar vida a nossa fogueira, quando alguém diz :“olha o gajo de Vila Real”. Fiquei admirado. Um grupo de amigos da Campeã, arredores de Vila Real. Um
abraço para eles! Estavam ali e reconheceram-me no meio da escuridão. Obviamente lá tive que ir à zona deles beber mais umas minis e dar mais dois dedos
de conversa. Vila Real estava em peso, pois nesse grupo também tinha ido
alguns conhecidos meus, tudo malta porreira.
A noite
foi-se passando, sempre com muita música, comida, bebida e muita
risada. De facto as noites do rally de Portugal são únicas.
Pouco depois
das 6h da manhã, o céu começou a clarear. A minha tenda nem foi montada tão
pouco. Era hora de começar a acordar quem se tinha recolhido, para desmontar
tudo, ir ao carro arrumar as tendas e afins, e trazer somente o essencial para
passar o dia. Comida e bebida. As tendas estavam cobertas de gelo. Uma garrafa
de água que ficara ao relento estava congelada também. O frio tinha sido ofuscado
pelo calor do fogo e das cervejas. Era hora de procurar um bom local para se
ver as máquinas passar, faltava ainda 8h para isso…
Confurco, um mar de gente
Claro que
toda a e gente queria o mesmo sitio. Todos queriam ver a passagem pelo asfalto
e o gancho de entrada na terra, nós também o queríamos. Subimos a encosta e o local
mais perto e com visibilidade que conseguimos era numa ribanceira muito
inclinada, por sinal, e nada confortável. Estávamos bastante distantes da estrada. Eram 8h da manha e foi o melhor que conseguimos. Após estar ali 30 minutos a
decisão foi unânime. Não ia-mos conseguir estar ali durante mais 6 horas
naquela posição. Decidimos procurar outro local, mais perto das emoções dos motores e também menos desconfortável para se aguardar pelo início da prova
marcado para as 14:20h.
A paisagem
era gigantesca. A 6 h da primeira passagem das máquinas, estava tudo
completamente cheio.
Curiosamente
decidimos voltar ao sítio onde tínhamos pernoitado, e o nosso espaço lá estava, ainda
com alguns metros quadrados entre o mar de gente. Foi de facto a melhor a
solução. Ficamos mesmo junto à rede, com muito boa visibilidade para a descida
do Confurco. O asfalto passavam mesmo debaixo dos nossos pés. Perfeito.
O resto da
manhã foi passado a ver quem por ali aparecia. Tive o privilégio de ver a minha frente
Jean Todt, presidente da FIA, uma figura muito simpática e que não escondeu a admiração
por toda a gente que ali estava. Acenou a toda a gente, distribui sorrisos e
fotografias com grupos que o iam chamando.
Eram 10h da
manha, faltavam mais de 4h para o início do Fafe Rally Sprint.
Isto que se
vivia em Fafe, comparando com o futebol, era como se na final da Champions
League, a 6h do início do jogo, já o Estádio estivesse completamente lotado.
Pouco depois
das 10h começam os pilotos a passar, fazendo os reconhecimentos e tirando as
notas do troço. Claro que todos também os queriam ver. Entre acenos e sorrisos,
poucos pilotos ficaram indiferentes àquela multidão que já enchia todo o troço.
Robert Kubica sem dúvida foi dos mais simpáticos, pouco se importando com as
notas, queria mesmo era cumprimentar toda a gente enquanto passava. Foi um
orgulho ver aquele vencedor na minha frente. Grande Kubica!
A ansiedade ia
crescendo, a hora ia-se aproximando. Queira muito que começasse. Sentir aquelas
máquinas de perto ia ser sem dúvida único.
E foi. Às 14:10h
passa o carro 0, o já famoso nestas andanças Ford Focus. Tudo estava a postos.
As máquinas
já se ouvem, o público rejubila, as máquinas fotográficas estão em cima dos tripés, os corações batem mais forte, sinto a respiração acelerar. Começa o
Fafe rally Sprint 2013. O Rally estava de volta…o resto? Ficam as imagens dos vídeos. Porque exprimir o que vi e vivi em Fafe...É muito difícil. Para se perceber o Confurco é preciso estar lá. E eu tive esse privilégio.
Fafe Rally
Sprint 2013
Carlos Mota
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