terça-feira, 3 de junho de 2014

Hamilton Vs Rosberg: A guerra dentro e fora de pista.

O GP do Mónaco teve o condão de provocar o momento de maior tensão, até ao momento, no seio da equipa Mercedes. A reacção de Hamilton à pole e consequente vitória de Rosberg fizeram os alarmes soar na equipa a cargo de Toto Wolf e Niki Lauda, que trataram logo da situação, colocando água na fervura, cujo resultado prático se viu na sexta feira com Hamilton a dizer que estava tudo OK com Rosberg e que embora com altos e baixos a amizade mantém-se.

Isto pode ter iniciado a parte mais interessante da luta entre os dois pilotos Mercedes, que até agora tinha sido bastante higiénica e pouco dada a este tipo de “bate-boca”. Rosberg tem estado constantemente no pódio desde o inicio do ano, enquanto Hamilton teve de recuperar os pontos perdidos na desistência em Melbourne. E conseguiu, fruto do seu enorme talento.

Mónaco é especial para qualquer piloto de F1. Todos querem vencer, mas no principado é especial. E Hamilton, que sabe que este ano pode ser seu, queria que Mónaco constasse no seu currículo. Rosberg impediu isso e o britânico reagiu mal. É um facto que a saída de Rosberg é estranha, mas não parece maldosa. E também é verdade que no decorrer da corrida, uma estratégia mais arrojada teria permitido que Hamilton tivesse mais hipóteses de ter lutado pela 1ª posição. Mas não deixa de ser menos verdade que Hamilton não teve um desempenho ao nível dos anteriores. Rosberg foi justo vencedor. E no final da corrida Hamilton ainda viu o seu lugar ameaçado por Ricciardo.

Nesse fim de semana vimos o lado menos bom de Hamilton, que provavelmente terá sido o responsável pelo desempenho menos conseguido e que é sem duvida o seu calcanhar de aquiles… O factor psicológico, que tem sido o seu maior ponto fraco.

Hamilton é sem dúvida melhor que Rosberg. Ele sabe disso e sente que este ano o campeonato tem de ser dele. Uma fonte de pressão. Sabe que na McLaren teve hipóteses de ser campeão, mas a fiabilidade dos carros nunca foi a melhor. E o tempo avança de forma implacável. Não que Hamilton esteja velho, mas não quererá perder a oportunidade de vencer mais um campeonato e colocar o seu nome ao lado dos grandes da modalidade. Toda esta pressão dissipa-se quando vence, mas quando é colocado em sentido pelo seu colega de equipa, a coisa muda de figura. A resposta que ele teve depois da qualificação e da corrida era genuína. E a ameaça de usar Senna como exemplo não era jogo. Era mesmo real. E embora sem querer, talvez tenha beneficiado ao nível do jogo psicológico, pois Rosberg não quererá ver Hamilton a “falhar” uma travagem e atirar ambos para fora de pista.

No ano passado os desempenhos foram francamente maus para o que pode fazer. Notava-se que não tinha a mesma paixão, a mesma chama. Era um Hamilton apático. Tudo isto devido a problemas com a namorada e com a família. Para que Hamilton esteja a 100% a sua cabeça tem de estar bem. A estabilidade em sua volta é um factor decisivo. Este ano a namorada voltou, os problemas ficaram resolvidos e Hamilton está de regresso. 

Rosberg por seu lado, nunca foi visto como um dos melhores do grid. É um bom piloto, não há duvida disso, mas falta-lhe aquele extra que Alonso ou Raikkonen ou Hamilton têm. Em compensação é um piloto inteligente, e que pode usar a guerra psicológica em seu favor. Por enquanto não o fez e teve uma postura correcta negando o erro mas, com o avançar do campeonato o alemão poderá aproveitar esse factor. É que ele também sente que tem uma oportunidade de ouro e não quererá que Hamilton lhe leve o titulo e fará tudo para o impedir.

A mensagem de Hamilton, afirmando que a amizade se mantinha, poderá bem ser um jogo de bastidores, com mão de Lauda e Wolf. A rivalidade dentro de pista tem sido sadia e bonita de ser ver, e a Mercedes quer fazer o pleno… vencer tudo e dar espectáculo. O plano parece ambicioso. Mas já se sabe que os pilotos de F1 são uma raça à parte. A única coisa que interessa são as vitórias. Foram poucos os que venceram sem usar truques sujos. Neste mundo altamente competitivo é necessário usar mais do que puro talento ao volante. E isso faz parte do espectáculo da F1. Embora entenda a vontade das chefias da Mercedes, já há muito tempo que não se tentava uma comparação com a rivalidade Senna /Prost ( com as devidas distâncias). Mas este confronto tem tudo para ser um cartaz aliciante. De um lado o fogo, a paixão, o talento e do outro a frieza, o calculismo, a inteligência. Não vos parece bem?


É provável que o ambiente de paz podre se mantenha mais alguns tempos, com sorrisos para a foto e abraços de circunstância. Mas a F1 não dá azo a esse tipo de relacionamento, quando se luta por um objectivo como o titulo. E a paz podre vai manter-se até a próxima vez em que ambos tiverem de lutar entre si pela vitória. Lewis quer o seu 2º campeonato, Rosberg quer vencer e aproveitar a oportunidade que nunca teve. Acham que há espaço para amizades neste momento? Espero que o próximo episódio da luta entre eles seja já no Canadá. A F1 precisa de uma boa rivalidade e esta tem os ingredientes todos necessários. Entendemos a preocupação de Lauda e Wolf… mas não nos importamos. Queremos espectáculo. Deixem os homens lutar.



Fábio Mendes.

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