O GP do Mónaco teve o condão de provocar o momento de maior
tensão, até ao momento, no seio da equipa Mercedes. A reacção de Hamilton à pole
e consequente vitória de Rosberg fizeram os alarmes soar na equipa a cargo de
Toto Wolf e Niki Lauda, que trataram logo da situação, colocando água na
fervura, cujo resultado prático se viu na sexta feira com Hamilton a dizer que
estava tudo OK com Rosberg e que embora com altos e baixos a amizade mantém-se.
Isto pode ter iniciado a parte mais interessante da luta
entre os dois pilotos Mercedes, que até agora tinha sido bastante higiénica e
pouco dada a este tipo de “bate-boca”. Rosberg tem estado constantemente no
pódio desde o inicio do ano, enquanto Hamilton teve de recuperar os pontos
perdidos na desistência em Melbourne. E conseguiu, fruto do seu enorme talento.
Mónaco é especial para qualquer piloto de F1. Todos querem vencer, mas no
principado é especial. E Hamilton, que sabe que este ano pode ser seu, queria
que Mónaco constasse no seu currículo. Rosberg impediu isso e o britânico
reagiu mal. É um facto que a saída de Rosberg é estranha, mas não parece
maldosa. E também é verdade que no decorrer da corrida, uma estratégia mais
arrojada teria permitido que Hamilton tivesse mais hipóteses de ter lutado pela
1ª posição. Mas não deixa de ser menos verdade que Hamilton não teve um
desempenho ao nível dos anteriores. Rosberg foi justo vencedor. E no final da
corrida Hamilton ainda viu o seu lugar ameaçado por Ricciardo.
Nesse fim de semana vimos o lado menos bom de Hamilton, que
provavelmente terá sido o responsável pelo desempenho menos conseguido e que é
sem duvida o seu calcanhar de aquiles… O factor psicológico, que tem sido o
seu maior ponto fraco.
Hamilton é sem dúvida melhor que Rosberg. Ele sabe disso e
sente que este ano o campeonato tem de ser dele. Uma fonte de pressão. Sabe que
na McLaren teve hipóteses de ser campeão, mas a fiabilidade dos carros nunca
foi a melhor. E o tempo avança de forma implacável. Não que Hamilton esteja
velho, mas não quererá perder a oportunidade de vencer mais um campeonato e
colocar o seu nome ao lado dos grandes da modalidade. Toda esta pressão
dissipa-se quando vence, mas quando é colocado em sentido pelo seu colega de
equipa, a coisa muda de figura. A resposta que ele teve depois da qualificação
e da corrida era genuína. E a ameaça de usar Senna como exemplo não era jogo.
Era mesmo real. E embora sem querer, talvez tenha beneficiado ao nível do jogo psicológico,
pois Rosberg não quererá ver Hamilton a “falhar” uma travagem e atirar ambos
para fora de pista.
No ano passado os desempenhos foram francamente maus para o
que pode fazer. Notava-se que não tinha a mesma paixão, a mesma chama. Era um
Hamilton apático. Tudo isto devido a problemas com a namorada e com a família.
Para que Hamilton esteja a 100% a sua cabeça tem de estar bem. A estabilidade
em sua volta é um factor decisivo. Este ano a namorada voltou, os problemas ficaram resolvidos e Hamilton está de regresso.
Rosberg por seu lado, nunca foi visto como um dos melhores
do grid. É um bom piloto, não há duvida disso, mas falta-lhe aquele extra que
Alonso ou Raikkonen ou Hamilton têm. Em compensação é um piloto inteligente, e
que pode usar a guerra psicológica em seu favor. Por enquanto não o fez e teve
uma postura correcta negando o erro mas, com o avançar do campeonato o alemão
poderá aproveitar esse factor. É que ele também sente que tem uma oportunidade de ouro e não quererá que Hamilton lhe leve o titulo e fará tudo para o impedir.
A mensagem de Hamilton, afirmando que a amizade se mantinha, poderá bem ser um jogo de bastidores, com mão de Lauda e Wolf. A rivalidade
dentro de pista tem sido sadia e bonita de ser ver, e a Mercedes quer fazer o
pleno… vencer tudo e dar espectáculo. O plano parece ambicioso. Mas já se sabe
que os pilotos de F1 são uma raça à parte. A única coisa que interessa são as
vitórias. Foram poucos os que venceram sem usar truques sujos. Neste mundo
altamente competitivo é necessário usar mais do que puro talento ao volante. E
isso faz parte do espectáculo da F1. Embora entenda a vontade das chefias da
Mercedes, já há muito tempo que não se tentava uma comparação com a rivalidade
Senna /Prost ( com as devidas distâncias). Mas este confronto tem tudo para ser
um cartaz aliciante. De um lado o fogo, a paixão, o talento e do outro a
frieza, o calculismo, a inteligência. Não vos parece bem?
É provável que o ambiente de paz podre se mantenha mais alguns
tempos, com sorrisos para a foto e abraços de circunstância. Mas a F1 não dá
azo a esse tipo de relacionamento, quando se luta por um objectivo como o
titulo. E a paz podre vai manter-se até a próxima vez em que ambos tiverem de
lutar entre si pela vitória. Lewis quer o seu 2º campeonato, Rosberg quer
vencer e aproveitar a oportunidade que nunca teve. Acham que há espaço para
amizades neste momento? Espero que o próximo episódio da luta entre eles seja
já no Canadá. A F1 precisa de uma boa rivalidade e esta tem os ingredientes
todos necessários. Entendemos a preocupação de Lauda e Wolf… mas não nos
importamos. Queremos espectáculo. Deixem os homens lutar.
Fábio Mendes.
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