Passaram 20 anos, desde a morte de um dos maiores ícones
do desporto motorizado. Um piloto que por mérito próprio, subiu à categoria de
imortal deste desporto que desperta paixões por todo o mundo.
Pouco mais haverá a dizer sobre Senna. Os textos, os livros,
os vídeos, irão sempre retratar mais ou menos o mesmo e são já inúmeros os
relatos.
Ao longo dos últimos dias tenho lido e visto muitas coisas
sobre Senna. A celebração dos 20 anos da sua morte e a nostalgia típica que se
instala por este tempo, assim levam a que veja ou reveja alguns documentos
sobre o grande Senna.
Será provavelmente arriscado dizer que Ayrton Senna deixou
uma marca ainda maior por ter morrido em pista. O facto de a sua partida ter
sido presenciada em directo por milhões em todo o mundo, marcou todos os que o
viram. Aquele que era um dos melhores pilotos de sempre, passava a ser algo
mais. Um mito que partiu, fazendo aquilo que mais gostava: correr num F1 e liderar.
A morte tem a capacidade de amenizar as opiniões e de fazer
lembrar o melhor. Senna, que era adorado por milhões, passou a ser venerado. O
seu talento era inquestionável, o seu carisma apaixonante, a sua postura
fascinante. Mas era um piloto de carne e osso. Um homem com um dom do
outro mundo.
Enquanto vivia e andava de pista em pista, Senna tinha uma
legião de fãs, mas a sua postura e a sua forma de estar não provocava
unanimidades. Se forem ver os relatos de vários grandes jornalistas da época, a
opinião deles é sempre dada com muita cautela, para não ferir susceptibilidades, mas nota-se que a admiração que têm vem acompanhada com algumas interrogações. Mesmo
algumas pessoas que privaram com ele em ambiente de competição, não tiveram uma
grande primeira impressão de Senna.
O inegável génio de Senna ao volante pedia
que o portador de tal talento tivesse um comportamento digno de “super herói” de
filme de Hollywood. Mas Senna não era esse super herói. O brasileiro era um
homem complicado, mas apenas isso... Um homem.
Senna começou por ser um rapaz tímido no paddock das
corridas. O piloto franzino, de poucas palavras e olhar profundo. Essa timidez
foi desaparecendo, e Senna passava a ser um homem de poucas mas certas
palavras. Um homem numa busca interior incessante, tentando descobrir mais e
mais sobre si. Inteligente e ponderado, querendo aprender para
melhorar o seu dom e o desporto para o qual vivia. Que contrastava com o Senna
que nos é dado a conhecer pela sua família. Um homem bem disposto, de bem com a
vida, que gostava dos prazeres que este mundo tem para dar. Alguém com a
consciência que era um sortudo e que o mundo não era tão colorido para outras
pessoas como era para ele. Alguém que fez muito para ajudar quem conheceu e
mostrou inúmeras vezes a sua humanidade.
Tudo isso mudava radicalmente quando colocava o mítico capacete
amarelo. Aí tornava-se num animal feroz, a quem nada mais interessa sem ser a
vitória. Um ser obstinado que sabia que era o melhor e que não admitia que nada
nem ninguém se intrometesse no seu caminho. Não foram poucas as vezes que o seu
comportamento em pista foi criticado. E mesmo fora do asfalto, no que dizia
respeito à competição Senna teve de “jogar sujo” algumas vezes para conseguir
subir à posição que queria e que, no seu interior, não tinha dúvidas que era sua
pertença. A sua sede de vitória era tal que não olhou a meios para vencer. A F1 é uma competição exigente e dura e Senna soube ser duro para vencer.
Alguns casos aconteceram, como o boicote à contratação de
Warwick, nos tempos da Lotus, retirando assim a possibilidade de Warwick correr
na F1, porque sabia que a Lotus não tinha condições de ter 2 pilotos a lutar de
forma igual. Senna queria um número 2 claro, que não
prejudicasse o foco da equipa em melhorar o seu carro para poder vencer.
Ou o “acordo de cavalheiros” com Nigel Mansell em que ambos concordaram não entrar
em aventuras dentro de pista, para evitar acidentes. Algo que foi prontamente
esquecido por Senna logo na corrida seguinte nas primeiras curvas.
Porquê trazer esta faceta mais negativa de Senna logo neste
dia? Para mostrar que tal como todos nós, tinha defeitos. Errou várias vezes,
tomou decisões das quais se arrependeu. Mas ainda assim conseguiu enfrentar os
seus erros, conseguiu melhorar os seus defeitos, aprendeu e tornou-se melhor.
Não interessa como se é, que defeitos se tenha. Se quisermos muito algo,
aprendemos com os erros, crescemos como pessoas.
Senna não foi um Super Herói. Foi um homem que soube vencer
adversidades. Um homem cuja tenacidade lhe permitiu chegar onde poucos
chegaram. Um homem que entendeu que, para vencer num desporto por vezes demasiado injusto, não podia vacilar por um segundo, mesmo correndo o risco de ser incompreendido. Um homem que que, ainda assim, chegou ao coração de milhões. Para se
conseguir o que Senna conseguiu, não é preciso ser super herói. Todos podemos
se quisermos muito, ser como ele. Talvez fosse essa a maior lição que ele nos
quis deixar.
Senna não foi um super herói, mas teve prestações heróicas em
pista que serão para sempre lembradas. Teve uma força interior enorme que o fez ultrapassar os seus limites e os obstáculos que foi encontrando, sem nunca ter medo do que os outros pensariam ou diriam.
Fez vibrar milhões, fez sorrir e chorar, deu-nos os melhores Domingos de
F1. Elevou a Formula 1 a um nível nunca antes visto. Um homem que fez um país
esquecer por breves momentos a crise que atravessava, que deixou as bases para
fazer uma fundação que ajuda milhões.
Senna foi o homem que conseguiu subir acima dos seus
defeitos dos seus erros e dos seus limites para se tornar num ícone para sempre relembrado, usando apenas
as ferramentas que tinha a disposição para o fazer.Coragem, força de vontade, inteligência, trabalho... É talvez por causa disso,
desta faceta humana que hoje, 20 anos após a sua morte, admiro ainda mais Ayrton
Senna. Porque a sua vida mostra que todos podemos atingir algo grande. E a sua
mensagem sempre positiva, dava e ainda dá, alento e motivação.
Senna não foi um Super Herói. Esses só existem nos filmes e são demasiado perfeitos. Na imperfeição da vida e das corridas, Senna foi mais que isso.
Obrigado Senna. Até sempre
fotos retiradas de :
http://www.insidemotorsportmag.com/ayrton-senna-par-paul-henri-cahier/
google.pt
Fábio Mendes
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