sexta-feira, 25 de julho de 2014

Entrevista a Rafael Lobato. Um futuro campeão na primeira pessoa.

Rafael Lobato tem sido uma das revelações do CNV de 2014, tendo um ano de estreia francamente positivo, com excelentes resultados. O jovem de Vila Real não é um desconhecido e o seu talento já começou a ser notado há algum tempo. Neste momento é 6º na geral do CNV e lidera a sua categoria.

Nascido a 29 de Outubro de 1997, iniciou-se nas competições nos karts, em Baltar, naquela que é reconhecida como a melhor escola nacional. Venceu vários campeonatos até que em 2010 resolveu dar um passo na sua carreia iniciando-se no Ralicross em Lousada terminando em 2º.

Em 2011 venceu o campeonato de iniciação de Ralicross (com 13 anos!) e para que ninguém ficasse com dúvidas do seu talento, venceu o campeonato nacional em 2012, sendo o mais jovem campeão de sempre no automobilismo nacional. Em 2012 foi considerado pela Autosport o piloto revelação do ano.

Em 2014 iniciou a sua aventura na velocidade e com resultados excelentes. Com um piloto de tanta qualidade aqui perto, tínhamos de tentar falar com Rafael Lobato. Ele aceitou o nosso desafio e esteve à conversa connosco no Autódromo Virtual de Vila Real. O resultado desta conversa é este:


Tens apenas 16 anos, mas já com um currículo invejável. Como começou a tua carreira?

Comecei com 8 anos na melhor escola de karts, em Baltar. Fui ganhando corridas. Mas a minha grande paixão e o meu objectivo sempre foram carros de resistência. Aos 13 anos tive a oportunidade de ir para o Ralicross, o que para mim foi uma experiência espectacular e a qual aconselho a quem for jovem e quiser entrar no mundo da competição. Uma vez que a idade mínima para competir no nacional de velocidade são 16 anos, o Ralicross é uma boa forma de começar a carreira e aprender. Fui campeão nesse ano e no ano a seguir. Agora com 16 e já com idade para competir na velocidade, decidi dar o passo para o CNV, com ajuda das pessoas que me seguem e dos meus patrocinadores.


Como surgiu esta oportunidade de correr no CNV com o Radical?

A época começou a ser planeada desde Outubro do ano passado. A ideia passava por correr numa categoria mais baixa e menos dispendiosa, como os Single Seaters. Mas a poucas semanas do inicio do campeonato, consegui as condições necessárias para participar na categoria sport protótipos e como tal decidi- me por uma categoria mais alta.


Pelo que se vê dos resultados, está a correr muito bem. Mas ainda assim tiveste dificuldades em adaptar-te a esta nova realidade ou foi fácil dar este passo?

A condução do radical, comparado com a de um Kart é muito semelhante. Há diferenças óbvias mas no geral é muito semelhante, como tal não tive grandes dificuldades em me adaptar ao carro. A experiência do Ralicross é diferente, pois é preciso ser igualmente bom na terra e no asfalto e saber andar “de lado”, mas não em demasia, para não se perder muito tempo e para além disso é preciso ter a cabeça fria para arriscar no momento certo, pois como são apenas 5 voltas, é tudo muito disputado. Se o adversário abre um pouco "a porta" é preciso aproveitar, mas evitando errar. Na velocidade isso é diferente, pois há corridas de 50 minutos e temos tempo para gerir melhor e esperar pela melhor oportunidade para atacar. Quando fui fazer os testes a Portimão, como disse, não tive dificuldade em adaptar-me graças aos karts, mas tive de me habituar a não ter a traseira tão de lado, pois estes carros não são feitos para isso.


Achas que a experiência no Ralicross também te tem ajudado na velocidade?

Temos o exemplo de Vila Real, na corrida à chuva, em que o carro estava muito solto de traseira. O que aprendi no Ralicross permitiu-me segurar melhor o carro e contrariar isso, principalmente nas passadeiras que ficaram muito escorregadias. Mesmo no pião que fiz, provavelmente se não fosse a escola do Ralicross, teria batido e seria muito pior. Assim evitei males maiores e perdi relativamente pouco tempo.


Já que falamos de Vila Real… O que achaste desse fim-de-semana, em que mais uma vez brilhaste? E foi muito bom o teu ano de estreia coincidir com o regresso do circuito…

Vila Real foi fantástico e foi realmente muito bom no meu ano de estreia correr cá. Uma experiência que ficará para sempre gravada na memória. O impacto nas primeiras voltas nos treinos livres foi impressionante e admito que no final dos treinos livres pensei “ o que estou a fazer aqui?”. Sentir os rails ali tão perto quando se está a 200 a subir Mateus e na descida, ali “fechados”, é uma falta de ar que impressiona (risos). Mas depois consegui adaptar-me bem.


O que pensas quando vais a essa velocidade?

Não há muito para pensar, é só manter a concentração ao máximo e esperar que os travões aguentem a travagem (risos).


As duas curvas de Mateus são mesmo para fazer a fundo? E são essas curvas que mostram a diferença entre os pilotos corajosos e o resto?

Acredito que sim. No início ouvi os relatos dos pilotos que diziam que a primeira [curva] de Mateus era feita a fundo, mas as primeiras vezes que lá passei pensei “ se calhar não é bem assim “ (risos). No final do dia depois de me habituar, já era a fundo. A primeira faz-se a fundo e a meio da segunda começa-se a travar para a chicane.

Como foi sentir o apoio do público e os aplausos merecidos, depois de um fim-de-semana brilhante?

Não dava para ouvir por causa do motor, mas senti muito o apoio do público. E na volta de saída senti o apoio do muito público que estava a ver. Ainda tentei ver algumas pessoas conhecidas, mas no meio de tanta gente era impossível. Foi excelente sentir aquele apoio todo e foi muito diferente das outras pistas onde pouca gente vai ver as corridas.


Deve ter sido confuso ir no lugar do passageiro, a ser conduzido pela cidade, fora das provas, uma vez que ainda não tens idade para ter a carta.

No inicio meteu um bocado de confusão andar ao lado e deu me vontade de dizer “pai sai lá daí, deixa estar que eu faço isso” (risos). Mas depois foi muito bom ir fazendo os reconhecimentos e vendo a pista tomar forma, o que me ajudou bastante a encontrar pontos de referência, para estar preparado para a prova.


Achas que vais ter dificuldade em tirar a carta? (risos)

Se calhar pode ser mais complicado do que parece, pois um carro de estrada é diferente de um carro de competição. Vai ser estranho para mim e provavelmente será estranho para o instrutor. É muito diferente conduzir um carro de estrada em relação a um carro de competição, principalmente no travão. A diferença é grande, na pista o travão é mais duro e não é para ser usado da mesma forma que na estrada. Gosto muito mais de conduzir um carro de pista.


É fácil gerir a tua vida escolar e pessoal com as corridas? Sentes que és reconhecido na rua? E em relação ao teu dia a dia, tens alguns cuidados extra?

Tenho corridas um fim-de-semana por mês, como tal tenho conseguido conciliar a escola com a competição com facilidade e tem corrido tudo bem, por enquanto. Ao nível do dia-a-dia tenho alguns cuidados com a preparação física, pois notei logo na primeira vez que andei no radical que as forças G eram muito maiores do que estava habituado e, como tal, é necessário fazer um pouco de ginásio. Em relação à vida social, é relativamente normal, embora sinta o apoio das pessoas que moram perto de mim quando vou para as corridas e sinto que começo a ser reconhecido na rua, mais depois da prova de Vila Real. Mas de resto sou o mais normal possível.


Sentes alguma diferença em relação aos colegas da tua idade?

Na escola sou igual aos outros. Mas sinto que quando é preciso, consigo estar mais concentrado, pois com os 8 anos de carreira sei que quando estou a fazer algo a sério tenho de estar focado e não posso estar a brincar. Como tal, isso talvez seja a diferença mais relevante. De resto não sinto grande diferença.


Qual é o teu grande sonho?

A F1 é o sonho de muita gente, mas sinceramente não é muito o meu. Já gostei muito mais de F1 do que agora. Neste momento os carros assumem muito mais importância do que os pilotos e isso retira-lhe o interesse. Obviamente que é o topo e gostaria de tentar, mas é muito complicado pois são precisos muitos milhões. O meu grande sonho é o campeonato de resistência. Acho que preferia fazer Le Mans, que um ano de F1. Gosto muito de Endurance e Turismo, mas acho que prefiro Endurance. Mas são sonhos e é cedo falar disso. Neste momento as decisões são tomadas mais em função do orçamento disponível do que propriamente aquilo que se gosta de fazer.


Ouvimos os pilotos queixarem-se muito da falta de apoio e de patrocínios. Tiveste dificuldade em arranjar apoios dada a tua idade e inexperiência na velocidade?

Senti mais facilidade em arranjar patrocinadores agora na velocidade do que no Ralicross, pois a categoria era vista como o parente pobre e se calhar considerada uma modalidade de “sucateiros”, o que não é verdade, pois o nível é muito bom e basta ver agora o mundial de Ralicross para ver as estruturas que estão presentes. Para a velocidade foi um pouco mais fácil arranjar apoios. E sem os apoios que tenho nada disto era possível e para onde quer que vá, levo sempre as referências dos patrocinadores que são muito importantes para mim.

Já tens planos para a próxima época? E se tivesses começado com o Tatuus ou um Norma achas que podias lutar pelos lugares da frente?

Ainda é cedo para pensar na próxima época. Vamos sensivelmente a meio desta época e ainda é cedo para pensar no futuro. Se tivesse começado com os outros carros seria mais complicado, pois implicava adaptação às pistas, à velocidade e ao carro, que é mais veloz do que o Radical. O Radical é uma boa escola e tenho aprendido muito. Este já é um carro veloz, embora não tanto quanto os Tatuus e os Norma. Assim, com este ano de adaptação e, caso consiga arranjar apoios para tal, se para o ano conseguir orçamento para um destes carros é provável que consiga adaptar-me melhor e será certamente mais fácil do que se tivesse começado já este ano.


Tens algum ídolo ou piloto de referência?

Há um piloto que é a grande referência para muitos e que também o é para mim, que é Ayrton Senna. Foi de facto o melhor de todos. De resto tenho vários pilotos que gosto em cada categoria, como é o caso do Albuquerque no WEC, o Lamy e o Parente na resistência. A nível nacional o Pedro Salvador, que me ajudou no início, é a minha referência.


O que achas da internacionalização do circuito de Vila Real?

É muito bom para a cidade e para o país, pois é um circuito com muita história e mesmo os pilotos de fora gostam da pista. Como tal este passo é muito importante.


Qual a pista em que gostarias de correr?

A pista que gostaria de correr era Le Mans. Mas não há nenhuma que diga que não goste. Le Mans era se calhar aquela que mais gostava de fazer.


E em relação a carros de estrada tens algum que gostes especialmente?

Este ano vi o Toyota GT86 e gosto muito do carro, que é uma espécie de evolução do AE86 que também gosto muito. Seria provavelmente a minha escolha neste momento, até por ser de tracção traseira. Gosto muito também de Porsches e Ferraris, embora não goste tanto dos Lamborghini´s.


A parceria com o Armando Parente tem corrido bem? Como tem sido o andamento de um comparado com o outro?

A ligação com o Parente tem corrido muito bem. Ele tem muita experiência e tem passado isso, o que é muito útil. E é interessante, pois ele dá-me as dicas e coloco a pressão de ele ter de ser mais rápido do que eu. A diferença tem sido mínima entre nós. Em Braga e Vila Real, nas voltas mais rápidas, ele foi mais rápido 0.1 seg, e em Portimão eu fui mais rápido 0.4seg, por isso no geral estou a ganhar (risos).





A conversa ainda se prolongou e Rafael fez questão de sublinhar o apoio dos seus patrocinadores, fãs, amigos e acima de tudo da sua família que esteve sempre com ele nos bons e maus momentos e que tem sido a sua base de apoio nesta aventura.

No final, Rafael ainda aceitou o nosso desafio para nos defrontar nos simuladores e, como é óbvio, o jovem piloto venceu, ainda que por uma curta margem (para falar a verdade foi uma tareia das antigas, mas isto fica só entre nós).

Uma tarde muito bem passada com um campeão.
Foi uma conversa excelente, com um Rafael Lobato ao nível do que tem mostrado em pista, ou seja, em grande. De uma simpatia a toda a prova, Rafael respondeu a todas as nossas questões e teve a paciência necessária para lidar com a nossa equipa cujo profissionalismo (ou falta dele) esteve mais uma vez em evidência. O talento e a postura de Rafael Lobato não engana: tem mesmo pinta de campeão! E não duvidamos que em breve irá brilhar em categorias mais altas e, quem sabe, irá concretizar o seu sonho de correr em Le Mans e o nosso sonho de ver um português no lugar mais alto da categoria rainha do Endurance. Estamos a torcer por isso.

Até lá fiquem de olho nele, que nós iremos seguir com atenção a sua carreira.




Já agora fica aqui uma amostra do talento de Rafael Lobato:





Fotos retiradas da página de Facebook do piloto em :
https://www.facebook.com/Rafael.Lobato.Fan.Page

Video retirado do canal de Youtube do piloto em:

https://www.youtube.com/user/granvet

Site oficial do piloto em :

http://rafaellobato22.wix.com/home




Entrevista:
Fábio Mendes 
Pedro Mendes
Carlos Mota


Texto:
Fábio Mendes

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