Rafael Lobato tem sido uma das
revelações do CNV de 2014, tendo um ano de estreia francamente positivo, com
excelentes resultados. O jovem de Vila Real não é um desconhecido e o seu
talento já começou a ser notado há algum tempo. Neste momento é 6º na geral do
CNV e lidera a sua categoria.
Nascido a 29
de Outubro de 1997, iniciou-se nas competições nos karts, em Baltar, naquela
que é reconhecida como a melhor escola nacional. Venceu vários campeonatos até
que em 2010 resolveu dar um passo na sua carreia iniciando-se no Ralicross em
Lousada terminando em 2º.
Em 2011
venceu o campeonato de iniciação de Ralicross (com 13 anos!) e para que ninguém
ficasse com dúvidas do seu talento, venceu o campeonato nacional em 2012, sendo o
mais jovem campeão de sempre no automobilismo nacional. Em 2012 foi considerado pela
Autosport o piloto revelação do ano.
Em 2014
iniciou a sua aventura na velocidade e com resultados excelentes. Com um piloto
de tanta qualidade aqui perto, tínhamos de tentar falar com Rafael Lobato. Ele
aceitou o nosso desafio e esteve à conversa connosco no Autódromo Virtual de
Vila Real. O resultado desta conversa é este:
Comecei com
8 anos na melhor escola de karts, em Baltar. Fui ganhando corridas. Mas a minha
grande paixão e o meu objectivo sempre foram carros de resistência. Aos 13 anos tive
a oportunidade de ir para o Ralicross, o que para mim foi uma experiência
espectacular e a qual aconselho a quem for jovem e quiser entrar no mundo da competição.
Uma vez que a idade mínima para competir no nacional de velocidade são 16 anos,
o Ralicross é uma boa forma de começar a carreira e aprender. Fui campeão nesse
ano e no ano a seguir. Agora com 16 e já com idade para competir na velocidade, decidi dar o
passo para o CNV, com ajuda das pessoas que me seguem e dos meus
patrocinadores.
Como surgiu esta oportunidade de correr no CNV com o Radical?
A época
começou a ser planeada desde Outubro do ano passado. A ideia passava por correr
numa categoria mais baixa e menos dispendiosa, como os Single Seaters. Mas a
poucas semanas do inicio do campeonato, consegui as condições necessárias para
participar na categoria sport protótipos e como tal decidi- me por uma
categoria mais alta.
Pelo que se vê dos resultados, está a correr muito bem. Mas ainda assim
tiveste dificuldades em adaptar-te a esta nova realidade ou foi fácil dar este
passo?
A condução
do radical, comparado com a de um Kart é muito semelhante. Há diferenças óbvias
mas no geral é muito semelhante, como tal não tive grandes
dificuldades em me adaptar ao carro. A experiência do Ralicross é diferente,
pois é preciso ser igualmente bom na terra e no asfalto e saber andar “de
lado”, mas não em demasia, para não se perder muito tempo e para além disso é
preciso ter a cabeça fria para arriscar no momento certo, pois como são apenas
5 voltas, é tudo muito disputado. Se o adversário abre um pouco "a porta" é
preciso aproveitar, mas evitando errar. Na velocidade isso é diferente, pois há
corridas de 50 minutos e temos tempo para gerir melhor e esperar pela melhor
oportunidade para atacar. Quando fui fazer os testes a Portimão, como disse, não tive
dificuldade em adaptar-me graças aos karts, mas tive de me habituar a não ter a
traseira tão de lado, pois estes carros não são feitos para isso.
Achas que a experiência no Ralicross também te tem ajudado na velocidade?
Temos o
exemplo de Vila Real, na corrida à chuva, em que o carro estava muito solto de
traseira. O que aprendi no Ralicross permitiu-me segurar melhor o carro e
contrariar isso, principalmente nas passadeiras que ficaram muito
escorregadias. Mesmo no pião que fiz, provavelmente se não fosse a escola do Ralicross,
teria batido e seria muito pior. Assim evitei males maiores e perdi
relativamente pouco tempo.
Já que falamos de Vila Real… O que achaste desse fim-de-semana, em que
mais uma vez brilhaste? E foi muito bom o teu ano de estreia coincidir com o
regresso do circuito…
Vila Real
foi fantástico e foi realmente muito bom no meu ano de estreia correr cá. Uma
experiência que ficará para sempre gravada na memória. O impacto nas primeiras
voltas nos treinos livres foi impressionante e admito que no final dos treinos
livres pensei “ o que estou a fazer aqui?”. Sentir os rails ali tão perto
quando se está a 200 a subir Mateus e na descida, ali “fechados”, é uma falta de
ar que impressiona (risos). Mas depois consegui adaptar-me bem.
O que pensas quando vais a essa velocidade?
Não há muito
para pensar, é só manter a concentração ao máximo e esperar que os travões
aguentem a travagem (risos).
As duas curvas de Mateus são mesmo para fazer a fundo? E são essas curvas
que mostram a diferença entre os pilotos corajosos e o resto?
Acredito que
sim. No início ouvi os relatos dos pilotos que diziam que a primeira [curva] de
Mateus era feita a fundo, mas as primeiras vezes que lá passei pensei “ se
calhar não é bem assim “ (risos). No final do dia depois de me habituar, já era
a fundo. A primeira faz-se a fundo e a meio da segunda começa-se a travar para
a chicane.
Como foi sentir o apoio do público e os aplausos merecidos, depois de um
fim-de-semana brilhante?
Não dava
para ouvir por causa do motor, mas senti muito o apoio do público. E na volta de
saída senti o apoio do muito público que estava a ver. Ainda tentei ver
algumas pessoas conhecidas, mas no meio de tanta gente era impossível. Foi
excelente sentir aquele apoio todo e foi muito diferente das outras pistas onde
pouca gente vai ver as corridas.
Deve ter sido confuso ir no lugar do passageiro, a ser conduzido pela cidade,
fora das provas, uma vez que ainda não tens idade para ter a carta.
No inicio
meteu um bocado de confusão andar ao lado e deu me vontade de dizer “pai sai lá
daí, deixa estar que eu faço isso” (risos). Mas depois foi muito bom ir fazendo
os reconhecimentos e vendo a pista tomar forma, o que me ajudou bastante a
encontrar pontos de referência, para estar preparado para a prova.
Achas que vais ter dificuldade em tirar a carta? (risos)
Se calhar
pode ser mais complicado do que parece, pois um carro de estrada é diferente de
um carro de competição. Vai ser estranho para mim e provavelmente será estranho
para o instrutor. É muito diferente conduzir um carro de estrada em relação a
um carro de competição, principalmente no travão. A diferença é grande, na pista
o travão é mais duro e não é para ser usado da mesma forma que na estrada.
Gosto muito mais de conduzir um carro de pista.
É fácil gerir a tua vida escolar e pessoal com as corridas? Sentes que és
reconhecido na rua? E em relação ao teu dia a dia, tens alguns cuidados extra?
Tenho
corridas um fim-de-semana por mês, como tal tenho conseguido conciliar a escola com a competição com
facilidade e tem corrido tudo bem, por enquanto. Ao nível do dia-a-dia tenho
alguns cuidados com a preparação física, pois notei logo na primeira vez que
andei no radical que as forças G eram muito maiores do que estava habituado e,
como tal, é necessário fazer um pouco de ginásio. Em relação à vida social, é
relativamente normal, embora sinta o apoio das pessoas que moram perto de mim
quando vou para as corridas e sinto que começo a ser reconhecido na rua, mais
depois da prova de Vila Real. Mas de resto sou o mais normal possível.
Sentes alguma diferença em relação aos colegas da tua idade?
Na escola
sou igual aos outros. Mas sinto que quando é preciso, consigo estar mais
concentrado, pois com os 8 anos de carreira sei que quando estou a fazer algo a
sério tenho de estar focado e não posso estar a brincar. Como tal, isso talvez
seja a diferença mais relevante. De resto não sinto grande diferença.
Qual é o teu grande sonho?
A F1 é o
sonho de muita gente, mas sinceramente não é muito o meu. Já gostei muito mais
de F1 do que agora. Neste momento os carros assumem muito mais importância do
que os pilotos e isso retira-lhe o interesse. Obviamente que é o topo e
gostaria de tentar, mas é muito complicado pois são precisos muitos milhões. O
meu grande sonho é o campeonato de resistência. Acho que preferia fazer Le Mans, que um ano de F1. Gosto muito de Endurance e Turismo, mas acho que prefiro
Endurance. Mas são sonhos e é cedo falar disso. Neste momento as
decisões são tomadas mais em função do orçamento disponível do que propriamente
aquilo que se gosta de fazer.
Ouvimos os pilotos queixarem-se muito da falta de apoio e de patrocínios.
Tiveste dificuldade em arranjar apoios dada a tua idade e inexperiência na
velocidade?
Senti mais
facilidade em arranjar patrocinadores agora na velocidade do que no Ralicross,
pois a categoria era vista como o parente pobre e se calhar considerada uma
modalidade de “sucateiros”, o que não é verdade, pois o nível é muito bom e basta
ver agora o mundial de Ralicross para ver as estruturas que estão presentes.
Para a velocidade foi um pouco mais fácil arranjar apoios. E sem os apoios que
tenho nada disto era possível e para onde quer que vá, levo sempre as
referências dos patrocinadores que são muito importantes para mim.
Já tens planos para a próxima época? E se tivesses começado com o Tatuus
ou um Norma achas que podias lutar pelos lugares da frente?
Ainda é cedo
para pensar na próxima época. Vamos sensivelmente a meio desta época e ainda é
cedo para pensar no futuro. Se tivesse começado com os outros carros seria mais
complicado, pois implicava adaptação às pistas, à velocidade e ao carro, que é
mais veloz do que o Radical. O Radical é uma boa escola e tenho aprendido
muito. Este já é um carro veloz, embora não tanto quanto os Tatuus e os Norma.
Assim, com este ano de adaptação e, caso consiga arranjar apoios para tal, se
para o ano conseguir orçamento para um destes carros é provável que consiga
adaptar-me melhor e será certamente mais fácil do que se tivesse começado já
este ano.
Tens algum ídolo ou piloto de referência?
Há um piloto
que é a grande referência para muitos e que também o é para mim, que é Ayrton Senna.
Foi de facto o melhor de todos. De resto tenho vários pilotos que gosto em cada
categoria, como é o caso do Albuquerque no WEC, o Lamy e o Parente na
resistência. A nível nacional o Pedro Salvador, que me ajudou no início, é a
minha referência.
O que achas da internacionalização do circuito de Vila Real?
É muito bom
para a cidade e para o país, pois é um circuito com muita história e mesmo os
pilotos de fora gostam da pista. Como tal este passo é muito importante.
Qual a pista em que gostarias de correr?
A pista que
gostaria de correr era Le Mans. Mas não há nenhuma que diga que não goste. Le
Mans era se calhar aquela que mais gostava de fazer.
E em relação a carros de estrada tens algum que gostes especialmente?
Este ano vi
o Toyota GT86 e gosto muito do carro, que é uma espécie de evolução do AE86
que também gosto muito. Seria provavelmente a minha escolha neste momento, até
por ser de tracção traseira. Gosto muito também de Porsches e Ferraris, embora
não goste tanto dos Lamborghini´s.
A parceria com o Armando Parente tem corrido bem? Como tem sido o andamento
de um comparado com o outro?
A ligação
com o Parente tem corrido muito bem. Ele tem muita experiência e tem passado
isso, o que é muito útil. E é interessante, pois ele dá-me as dicas e coloco a
pressão de ele ter de ser mais rápido do que eu. A diferença tem sido mínima entre
nós. Em Braga e Vila Real, nas voltas mais rápidas, ele foi mais rápido 0.1 seg,
e em Portimão eu fui mais rápido 0.4seg, por isso no geral estou a ganhar
(risos).
A conversa
ainda se prolongou e Rafael fez questão de sublinhar o apoio dos seus
patrocinadores, fãs, amigos e acima de tudo da sua família que esteve sempre
com ele nos bons e maus momentos e que tem sido a sua base de apoio nesta
aventura.
No final,
Rafael ainda aceitou o nosso desafio para nos defrontar nos simuladores e, como
é óbvio, o jovem piloto venceu, ainda que por uma curta margem (para falar a
verdade foi uma tareia das antigas, mas isto fica só entre nós).
Uma tarde muito bem passada com um campeão. |
Até lá
fiquem de olho nele, que nós iremos seguir com atenção a sua carreira.
Já agora fica aqui uma amostra do talento de Rafael Lobato:
Já agora fica aqui uma amostra do talento de Rafael Lobato:
Fotos retiradas da página de Facebook do piloto em :
https://www.facebook.com/Rafael.Lobato.Fan.Page
Video retirado do canal de Youtube do piloto em:
Site oficial do piloto em :
Entrevista:
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