Foi com algum espanto (pouco, admito) que recebemos o anúncio
da saída de Domenicali da estrutura da Ferrari. A situação do italiano não era
a mais fácil dentro do grupo e o descontentamento de Montezemolo ficava cada
vez maior a cada volta do novo Ferrari em pista.
Domenicali, que era o rosto mais visível da estrutura, teve
de se demitir. O seu historial também não o favorece muito.
Na equipa desde 93, passou a chefe em 2008, aquando da saída
de Jean Todt. Nesse ano ganhou o título de melhor construtor, mas o de melhor
piloto escapou por entre os dedos de Massa, na última curva de Interlagos, com
Hamilton a vencer o título.
No ano a seguir, com os novos regulamentos, a Ferrari
ficou-se pelo 4º lugar dos construtores num ano em que começou o declínio da
equipa (1 vitória apenas para Kimi).
2010 seria inicio da
hegemonia Red Bull, com Vettel a ganhar o primeiro de 4 títulos seguidos
segundado por Alonso a curta distância (4 pontos) com o 3º lugar no campeonato
de construtores.
2011 foi mais do mesmo, com Alonso em 4º e a Scuderia a
ficar-se pela 3ª posição, assim como em 2012, com Alonso a ficar-se mais uma
vez pela 2ª posição, tal como a Ferrari. 2013 outra vez Alonso em 2º, com a
Ferrari a ficar-se pelo 3º.
Estatisticamente, este anos de Domenicali não foram muito
maus. Foram no total 74 pódios, com 20 vitórias. Contas por alto dá 12 pódios
por ano e 3 vitórias por ano. Números suficientes para garantir títulos.
O problema de Domenicali é que durante o seu reinado viu uma
Brawn que aproveitou como ninguém os novos regulamentos em 2009 e ganhou uma
vantagem enorme para vencer e a partir de 2010 viu uma Red Bull dominante, que
não deu hipótese a ninguém. Nunca a Ferrari soube dar resposta nestes
confrontos. Mais ainda, a Ferrari nunca conseguiu fazer um carro que fosse indiscutivelmente
bom. Todos os anos a Scuderia aparecia com esperanças renovadas e com perspectivas
de um bom carro, mas nunca confirmando isso. O caso mais grave foi o do ano
passado. O carro era bonito, parecia ter um potencial excelente e por algum
motivo nunca cumpriu o que prometeu.
A grande verdade é que, o que salvou Domenicali durante este
tempo todo foi Alonso, que andou a passar cheques que a Ferrari não podia
pagar. O talento do espanhol fez a Ferrari sonhar com aquilo que teoricamente
era quase impossível. O campeonato de 2012, decidido na ultima corrida é um
exemplo disso. Só um Alonso em grande forma permitiu que a Ferrari fosse tão
longe. O carro? Era fraco. O McLaren era francamente melhor e só a falta de fiabilidade
impediu Hamilton/Button de lutar pelo título até ao fim.
É este peso que Domenicali carrega. Nunca ter dado, a um dos
melhores pilotos de sempre um carro à altura do seu talento. De ter feito da
Ferrari a eterna segunda, desenrascando melhor que se esperaria. E este ano o
caso é mais grave. Ter Alonso e Kimi na mesma garagem é de sonho. A obrigação
de uma equipa que consegue este line up é ter um carro que, no mínimo, lute
pelo pódio, ainda mais a Ferrari com os recursos que tem. Mas neste momento o
carro não dá para muito mais que um 5º lugar. Na última corrida, Alonso
festejou energicamente (e ironicamente) um 9º lugar. Foi a gota de água.
Montezemolo, qual dono de um clube de futebol, deve ter forçado a saída de Domenicali. Mas o efeito chicotada psicológica não se fará sentir na Ferrari, como se sentiria num clube. O substituto escolhido é Marco Mattiacci, presidente da secção norte americana da Ferrari. Ou seja alguém sem experiência na F1. Será o braço direito de Domenicali, Antonello Colleta, a assumir a liderança enquanto Mattiacci não se adapta ao novo papel.
Montezemolo, qual dono de um clube de futebol, deve ter forçado a saída de Domenicali. Mas o efeito chicotada psicológica não se fará sentir na Ferrari, como se sentiria num clube. O substituto escolhido é Marco Mattiacci, presidente da secção norte americana da Ferrari. Ou seja alguém sem experiência na F1. Será o braço direito de Domenicali, Antonello Colleta, a assumir a liderança enquanto Mattiacci não se adapta ao novo papel.
Parece claro que as agulhas começam a apontar para 2015. A
evolução do carro está a ser lenta e os problemas só serão resolvidos a longo
prazo. O que significa que a Ferrari não vai vencer mais uma vez. E para Alonso
deverá ser o fim da linha na Ferrari. Ele quer mais um título, sabe que tem qualidade para
isso, mas tem estado numa equipa que não lhe dá o material necessário. É cada
vez mais falada a hipótese do espanhol ir para a McLaren. E Kimi? Bem esse terá
de esperar pelo o próximo ano para voltar a sonhar com um título. Este ano será
de aprendizagem e nova adaptação a uma casa que conheceu em tempos mas que
mudou entretanto.
É Domenicali culpado por estes maus resultados? Tem de ser.
O chefe é mesmo isso. Aquele que assume as responsabilidades quando as coisas
não correm bem. Será o único culpado? Claro que não e provavelmente a culpa maior nem
está nele mas uns degraus acima na cadeia de liderança. Merece esta saída da
F1? Não. Pelo que fez e pela sua postura, merecia ficar até final e tentar algo mais. Será este um
virar de página da Ferrari? Este ano não. Mattiacci veio colocar um nome numa
posição, mas não vem acrescentar qualidade. O nome que poderá entrar como chefe
e que realmente começará uma nova era deverá estar reservado para o próximo
ano. Brawn? Bob Bell, que saiu recentemente da Mercedes? Ninguém sabe. Mas que a
Scuderia precisa de um nome forte na frente da equipa, isso sem dúvidas que
precisa.
Fábio Mendes
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