O último GP teve imagens fantásticas de carros a derrapar, com os pilotos a merecer mais o dinheiro que recebem. É uma nova era, em que os
pilotos são obrigados a dar mais de si. Algo que sempre foi criticado e de forma injusta, era a facilidade com que os pilotos conduziam os carros modernos (se é que o
adjectivo fácil é o apropriado, quando se fala de conduzir autênticos monstros).
Mas ao contrário do que se pensa, o nível de ajudas electrónicas dos pilotos é
muito reduzido. ABS, controlo de tracção, etc… Muitos termos que vemos
aplicados nos carros do dia a dia, que não estão presentes na F1.
Brake by Wire: O que é isso?
O último termo a surgir na F1, que pode suscitar duvidas é o
Brake by Wire, que não é nada mais que o sistema de travagem controlado
electronicamente (Semelhante, ao termo Fly By Wire nos aviões, em que os
comandos do piloto são enviados para um computador, em vez de estar ligado
directamente ao sistema hidráulico. É uma espécie de corrector que permite
manter o avião estável).
Os mais pessimistas começarão a dizer “
pronto, mais uma vez estes pilotos têm cada vez mais ajudas”. Calma. Este
sistema é muito mais necessário do que pensa. Uma ajuda ao piloto seria para
tornar a condução mais fácil. Este sistema torna a condução possível. Sem ele o
carro seria quase impossível de conduzir. Como tal não é uma ajuda. É uma
necessidade.
Um F1 tem dois sistemas de travagem. Os travões do eixo da
frente e os travões do eixo traseiro. Isto acontece para que, caso um falhe, ou
outro permite parar o carro. Esta configuração mantém-se. A única coisa que
muda é que, enquanto os travões da frente são iguais aos do ano passado, que são
accionados pelo pedal do travão, que está directamente ligado ao sistema hidráulico,
os travões de trás são assistidos por computador. Porquê?
Por causa do sistema de recuperação de energia cinética (Kers, que esta época é uma componente do ERS, ao contrario do ano passado, que era o único sistema de recuperação). Este
sistema está ligado ao eixo traseiro. Quando o carro trava, a rotação do eixo traseiro é usada para fazer girar um gerador, que irá criar electricidade para carregar as
baterias. Acontece que, ao contrário do ano passado, em que o sistema apenas
produzia 80Cv, este ano o sistema produz 160Cv. Ou seja um sistema mais
poderoso implica um gerador mais poderoso, que irá rodar com mais dificuldade, em
relação ao gerador do ano passado. Isso significa que nos carros de 2014, a força necessária
para fazer girar o gerador é suficiente para provocar uma desaceleração no
carro. Podemos considerar que é o motor a travar o carro.
Mais ainda, o sistema de recolha de energia é variável. Uma
vezes irá recolher mais energia, outras vezes menos, dependendo do estado de saúde
das baterias e da necessidade do carro. Significa que numa volta o Kers irá
precisar de mais energia ou menos para recarregar as baterias. Ou seja numa voltas o Kers irá desacelerar mais o carro e noutras menos.
Tudo isto influencia o equilíbrio de travagem do carro. Se
os travões traseiros tivessem ligados directamente ao pedal ,tal como os da
frente, os pilotos teriam quase que “um pedal novo” a cada volta, pois para
fazer uma travagem, seria necessário mais ou menos travão, consoante o Kers
estivesse a recolher energia. Estão a imaginar entrar numa curva a 280Km/h e o
travão não responder como estavam à espera? Entrar numa curva que fizeram 10 vezes com uma certa pressão no pedal e essa mesma pressão não provocar o mesmo efeito que provocou nas 10 voltas anteriores? Às velocidades que os F1 andam, não convém este tipo de brincadeira para os pilotos, que já têm bastante que se preocupar com 4 vezes mais binário que no ano passado.
Assim o brake by wire, analisa a força aplicada pelo piloto
no pedal e integra essa informação com o nível de recolha de energia do Kers (e com muito mais informação), para permitir que a travagem seja mais suave e que
se possa tornar uniforme. Quando o piloto pisa o travão, sabe qual a força a
aplicar e isso manter-se-à constante ao longo de toda a corrida.
O sistema ainda não está bem calibrado, por ser ainda muito
recente e o resultado disso está a vista. Os Toro Rosso passaram muito tempo
fora de pista nos treinos, por falhar tempos de travagem, Kobayashi falhou o tempo de
travagem porque o sistema falhou.
Tivemos exemplos de como os carros se comportam quando o sistema não faz o seu
trabalho devidamente. Grosjean disse, numa sessão de treinos, que o carro não
travava como ele esperava e que era perigoso. Para um piloto dizer que o carro
é perigoso é preciso muito. Agora imaginem sem este sistema.
Por isso o sistema de travagem assistido só está para
permitir que um carro com uma complexidade tremenda, tenha estabilidade
suficiente para ser conduzido. Aliás, a situação não é virgem na F1, pois os
aceleradores também são “by wire”. Por isso é que se fala em mapeamento do
acelerador. É apenas um sistema que permite regular a resposta do acelerador em
situações diferentes.
Não podemos esquecer que a F1 é uma montra tecnológica. E que
os carros da era passada, embora muito bons, eram na sua essência mais primitivos
que os carros do dia a dia. E a F1 é também sinonimo de inovação, tecnologia. Com
esta revolução a F1 voltou ao lugar que devia ter sido sempre seu. No topo da
inovação em deporto motorizado.
Fontes:
formula1-dictionary.net
jamesallenonf1.com
wikipédia.com
Fábio Mendes
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