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foto: XPB Images |
Foi confirmado hoje que a Marussia está na "corda bamba". A equipa
anunciou a falta de investimento do principal accionista, o que coloca a equipa
numa situação complicada. A Marussia não irá para os EUA, juntando-se assim à
Caterham neste triste lote. Serão menos 4 carros no grid no próximo fim-de-semana.
A participação nas últimas provas do ano para estas duas equipas está
seriamente colocada em risco. Mas a situação pode ser bem mais grave.
Os problemas financeiros da F1 já são há muito falados e podem parecer anedóticos quando se fala de uma modalidade que movimenta milhões. Mas tal como no resto do mundo, o grande defeito da F1 é ter o poder demasiado concentrado e esse poder apenas ver uma coisa… o seu próprio proveito. Já há muito que batalho neste tema e a conclusão é sempre a mesma. Quem manda tem de dar lugar a sangue novo, ideias novas. Pois o que se está a passar agora é apenas a ponta do Iceberg.
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foto: XPB Images |
Bernie Eclesttone anda na F1 desde os anos 70. Um simples
vendedor de carros passou a ser dono de uma equipa de F1 e agora é o “todo-poderoso”.
No seu reinado, Bernie deu as equipas os direitos televisivos, aumentou a
segurança da modalidade e exponenciou o potencial económico de forma brutal.
Mas Bernie anda nisto há muito tempo. E tem posições inflexíveis, que agora
diminuem o potencial da F1. A ideia estúpida de não apostar nas redes sociais é
castradora em muitos sentidos. O MotoGP é um dos melhores exemplos. Todos os conteúdos
estão disponíveis no site e fazem que os fãs tenham acesso directo e facilitado
ao que querem ver. Retirar a F1 de onde há fãs para onde há apenas dinheiro é
também absurdo. O GP do Azerbaijão era algo que ninguém conseguira imaginar há
uns anos atrás. Quem vai pagar bilhete para ir ver um GP ao Azerbaijão?
Além disso, tivemos de passar a aturar emissões em canais
fechados, e temos de engolir esta espécie de lei da rolha que diz que só o que
o tio Bernie quer é que se pode ver. E para isso tem de se pagar. Caso contrário
é tudo banido e escondido.
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foto: XPB Images |
Façam um teste. Perguntem porque os vossos amigos deixaram
de ver F1. Duas respostas surgirão. Ou “desde que o Senna morreu nunca mais foi
o mesmo”, ou “desde que passou para o canal fechado nunca mais deu jeito ver”. A
perda do grande Senna é irreparável. Mas qualquer desporto já perdeu ícones e
nunca perdeu fãs. Porque esteve sempre disponível. O grande problema da F1 é
que deixou de estar acessível a todos. E as pessoas são “preguiçosas” por
natureza. Se o conteúdo não for de fácil acesso não vêm. E acreditem se
voltarem a ver, o “bichinho” volta a crescer. Mas como não vêm, não se
interessam. Não é por falta de espectáculo que a F1 perde audiências,
principalmente este ano.
Todo este elitismo, todas estas dificuldades de acesso a conteúdos
tornam a F1 menos atractiva ao público e a investimentos. Grandes marcas, que
poderiam investir no grande circo, não o fazem porque acham que a visibilidade
que obtém não é suficiente para os preços que as equipas exigem. Hoje em dia só
se vêm marcas de luxo, cujo acesso está confinado a um público muito restrito.
Só este ano a Martini e a Smirnoff resolveram apostar, no que pareciam ser um
balão de ar fresco.
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foto: XPB Images |
Mas é pouco. As equipas gastam cada vez mais e precisam de
mais dinheiro. Mas com a filosofia seguida por Bernie, isso nunca acontecerá.
Resultado? A Caterham vai fechar as portas (não é confirmado mas é um cenário
mais que certo), a Marussia vai pelo mesmo caminho, e equipas como Sauber,
Force India ficam numa situação muito complicada. Ficamos então com um grid
reduzido a metade, onde agora a ideia passa por colocar 3 carros por equipa. É
uma solução quer se goste ou não mas não creio que favorece a F1.
Mas o pior nem é isso. O pior é ver modalidades que antes
eram consideradas secundárias a ganharem mais relevo. O WEC é exemplo disso.
Cada vez mais marcas e equipas estão interessadas. O DTM vai pelo mesmo caminho
não tarda. Até o WTCC está em vias de ver mais equipas. Mais equipas trazem mais
competição. Mais visibilidade, implica mais investidores e mais publicidade.
Mais publicidade traz mais dinheiro. É na variedade que
estas modalidades se vão apoiando para crescer. Variedade que é cada vez mais
escassa na F1. Ninguém pense que é por acaso que as marcas estão de volta em
força para apostar em WTCC, WRC, WEC etc. Há vontade de voltar a competir por
parte das marcas históricas. Tem é de haver um retorno para que isso aconteça. E
na F1 isso é muito difícil de acontecer. Cada vez mais. E as marcas vão para onde consigam esse retorno.
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foto: XPB Images |
Há algum tempo ouvia-se que esta crise poderia ser o fim da
F1. Hoje os arautos da desgraça ganharam mais um ponto a favor deles. Não
acredito que a F1 vá acabar a curto ou até mesmo médio prazo. Tem demasiada
história para isso. O único receio é que a modalidade siga um caminho que deixe
de ser atractivo. Não faltam opções para os fãs de desportos motorizados passaram
o fim-de-semana. Se a F1 quer ser mesmo a categoria rainha, tem de mudar de
filosofia. Tem de mudar a forma como se abre para o mundo. Se continuar no seu “castelo”
à espera que os interessados entrem… as pessoas poderão virar-se para outros
lados. E então aí sim… a F1 deixará de fazer sentido.
É preciso repensar a distribuição dos prémios às equipas, é preciso repensar nos gastos que as equipas fazem, é preciso começar a focar mais no adepto da modalidade e não no rico que vai ver uma corrida por ano e nem faz ideia de quem são os pilotos. É preciso tornar a modalidade competitiva e dar as equipas as ferramentas para isso. É preciso trazer as corridas para onde há fãs, é preciso abrir os conteúdos a quem os queira ver, mesmo que sejam meros curiosos. O futuro da modalidade depende disso.
Fábio Mendes
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