Foi mais uma excelente prova que decorreu em Hockenheim. Sem
surpresa um traçado com mais tradição permite uma corrida cheia de acção. E sem
surpresa também o nível competitivo está a evoluir favoravelmente. É certo que o domínio
dos Flechas de Prata se mantém mas não é menos verdade que a subida de forma da
Williams trouxe mais interesse.
A grande novidade para este fim de semana era retirada do
FRIC, sistema que equipou a grande maioria dos monolugares e que agora foi
banido. Havia muita curiosidade para perceber como os monolugares iriam
responder a esta mudança, que se esperava tirasse alguma vantagem aos Mercedes,
cujo sistema era o mais desenvolvido. No final, os Mercedes voltaram a vencer e os Williams mostraram argumentos muito interessantes.
Mercedes:
Não sentiram minimamente a perda do FRIC. O domínio do
costume e… o azar do costume também. Hamilton não está isento de culpa por não
ocupar neste momento o 1º lugar mas é justo admitir que o britânico não tem
sido bafejado pela sorte (recebeu uma prenda em Silverstone, mas logo na
corrida seguinte voltou à “realidade”). A saída de pista, por falha nos travões
logo na Q1, fazia prever uma corrida difícil, que ficou ainda mais complicada
com a penalização por troca de caixa. Sair de 20º e recuperar, mesmo com o
melhor carro do grid, é muito complicado. Hamiton voltou a mostrar o seu
talento. Foi agressivo e determinado. O seu objectivo era chegar-se a Rosberg e
fez tudo para isso. Teve manobras arriscadas e alguns toques, mas às vezes a única
forma de subir é com a "faca nos dentes". Lewis fez uma boa prova, e o 3º lugar é
mais que merecido. Já Rosberg está numa maré de sorte. Viu a Alemanha ser
campeã do mundo, casou, assinou novo contracto e venceu em casa. Se lhe pedirem
para definir o que é uma semana perfeita ele dirá que provavelmente será esta
que acabou. Na qualificação teve de se
aplicar pois os Williams não facilitaram e na corrida, quase passou
despercebido. Largou de primeiro e voou para longe, o que torna as coisas muito
mais fáceis ( perguntem a Vettel). Está em grande forma e parece ter a
compostura suficiente para lidar com a
pressão. As bolsas de apostas tendem mais para o alemão.
Williams:
Toda a gente esperava que o FW36 começasse a finalmente a
apresentar resultados. 3 pódios seguidos não é nada mau. Ter segurado um
Mercedes na parte final da corrida ainda melhor. O carro que melhor velocidade
em recta apresenta, está agora com um nível de competitividade bem interessante.
Mas quem está a mostrar fibra é Bottas. O finlandês não é o mais popular em
pista e bem ao estilo escandinavo é frio. Mas em pista essa frieza mostra-se
muito útil. A forma como segurou Hamilton é prova disso. Nunca perdeu o norte e
sempre soube colocar o carro. Aos poucos vai conquistando fãs e por certo a
estrutura Williams. Uma agradável surpresa. No lote dos azarados, Massa está no
topo. Já é a 3ª vez que se vê envolvido em acidentes aparatosos, em que não tem
culpa. Quando o azar lhe dá tréguas, mostra que tem capacidade para voltar a ser
o “velho Massa”. Mas até lá tem de penar e passar por cada obstáculo. Se há
quem não tem vida fácil no grid é ele. Mas no geral a Williams é agora “a
melhor do resto” e a equipa a bater por parte dos concorrentes. Mercedes estão
numa liga à parte.
Red Bull:
Vettel 4º e Ricciardo 6º no papel não seria mau de todo. Mas
a equipa que surpreendeu tudo e todos no inicio do ano, com um carro que passou
de uma “carcaça” a um carro capaz de dar bons resultados está a desiludir. A evolução do
RB10 está a ser lenta e penosa. O motor Renault não ajuda muito também. Mas a
gritante falta de “pulmão “ nas rectas é um "handicap" sério, para quem tem de
lutar para subir posições. Se antes essa questão não se colocava, pois a pole
garante potencialmente o melhor lugar para se estar numa corrida (o 1º),
quando isso não acontece, o Red Bull sente muito a falta de velocidade de
ponta. Para além disso, parecem ter sido
a equipa que mais sentiu a retirada do FRIC. As faíscas que se viram debaixo do
nariz do carro de Ricciardo podem ser um indicador. Ricciardo tentou mas não
conseguiu passar por Alonso (não será o primeiro a queixar-se disso) e Vettel
mostrou que está num momento psicológico menos bom. Irritadiço e em baixo, o
alemão não estava habituado a ser figura de 2º plano e isso deve doer no ego do
campeão em titulo, que correu em casa e terá sentido um pouco a "sombra" de
Rosberg. Será a Red Bull capaz de melhorar? Depende muito também do que a Renault
conseguir fazer.
Ferrari:
Pelos vistos os ponteiros já estão virados para 2015. O
motor não cumpre com as exigências e terá de ser substituído por uma versão
melhorada. Como tal as aspirações para este ano deverão ser curtas. Kimi
continua com dificuldades em entender o F14T e não encontrar um Set up correcto
para o seu estilo de condução. Já Alonso mantém o rendimento do costume. Se lhe
derem um tractor ele é capaz de o colocar nos pontos. A qualidade do espanhol
só por si garante pontos. Resta saber se Alonso se mantém para o ano e se Kimi
arranja vontade de dar a volta à situação ou se prefere sair. Há muita coisa
por definir na Scuderia. Uma coisa está definida. Este ano será mais um
fracasso.
Force India:
Mantêm se a frente da McLaren no campeonato e muito graças a
Hulkenberg. O alemão esteve mais uma vez muito bem, fazendo render a estratégia
de 2 paragens. O carro precisa de melhorias e pode ser que o verão lhe faça bem.
Os "Force" deixaram de ser o carro mais rápido em recta, como era habitual e o
único ponto forte neste momento é a boa gestão de pneus. É um monolugar equilibrado
é certo, mas falta lhe algo mais. Algo que poderia fazer chegar às lutas com Ferrari
Red Bull e McLaren. Fraca corrida de Perez . Ele que era conhecido por fazer durar a borracha mais que os
outros, não conseguiu fazer isso ontem. Já esteve no pódio é certo mas
Hulkenberg tem sido o grande responsável pela boa época da Force India. Perez
continua a mostrar pouco para o que pode fazer. Tanto talento e tão pouca
cabeça. Sobre Hulkneberg está tudo dito. É bom e ninguém precisa de dizer mais
nada.
McLaren:
Button fez por recuperar algumas posições, depois de uma
fraca qualificação, acabando em 8º. O britânico queixou se da estratégia, que
não foi a melhor. Button não conseguiu segurar ninguém e deve ter o pescoço
dorido de tanto olhar para o espelho. O MP4/29 precisa de melhorar muito. Magnussen por seu
lado viu-se envolvido no toque com Massa (sem culpa) e teve de fazer uma
corrida de trás para a frente. Ele que esteve a 10 segundos do último, acabou em
9º! Uma excelente corrida do dinamarquês que passou um pouco despercebida na
tv. Mas recuperar assim é de piloto. Este sim e o Magnussen que todos querem ver.
Lotus:
Mais uma desistência para a Lotus, que deve ter estar num
campeonato com a Sauber para ver quem desiste mais vezes. Os problemas continuam e nada parece resolver
a situação. Por certo a Lotus quererá passar já para 2015. A equipa sentiu muito a perda do FRIC. E se já antes o carro era fraco imaginem agora. Gorsjean começa a
desesperar, pois com o carro parado não consegue mostrar serviço e como tal
convecer outras equipas a proporem contracto. Já Maldonado em 12º foi mais do
mesmo… Nada de mais. Mesmo assim tem lugar assegurado para 2015. O dinheiro não
traz felicidade? Perguntem ao Pastor.
Toro Rosso:
Kvyat teve um dia para esquecer. Começou bem a corrida mas, por algum motivo, perdeu a frieza que o caracterizava. Viu se envolvido num
acidente evitável, naquele que poderá ter sido o seu primeiro erro de rookie
este ano. Fechar a trajectória quando ia passar Perez mostra imaturidade, algo
que nunca ninguém lhe tinha apontado até agora. Para piorar viu o seu Toro
Rosso arder devido a uma fuga de óleo.
Vergne por seu lado, teve um "stop&go" por ter ultrapassado os limites
da pista e ter beneficiado disso, numa luta com Grosjean e como tal a sua
corrida ficou arruinada. 13º foi o melhor que pôde fazer... e Helmut Marko não deve ter gostado muito.
Sauber:
Mais uma desistência. O acelerador de Sutil foi possuído por
uma força estranha que, ora retirava qualquer aceleração, ora dava aceleração
máxima, o que provocou o pião na última curva. Já Gutierrez… pouco ou nada
mostrou. O costume portanto. O objectivo agora é fazer melhor que a Marussia. Está tudo dito portanto.
Marussia/ Caterham:
Bianchi teve um inicio terrível. Ficou para trás na largada
e perdeu muitas posições. Ainda assim foi capaz de passar o seu companheiro de
equipa e os dois Caterham´s e acabar em 15º. Este jovem quando estiver num
carro à sério vai brilhar muito. Kobayashi foi mais uma vez o melhor da
Caterham e a dupla Ericsson /Chilton mostraram que entendem bem Maldonado, no
que diz respeito a garantir o lugar pela força do dinheiro. Há muito melhor nas
reservas de qualquer equipa do grid.
Ultrapassagens:
Muitos se queixaram (e com razão) que a F1 tinha poucas
ultrapassagens. Depois do recital em Silverstone, Hockenheim foi também um
prato de cheio de manobras excelentes. É raro ver 3 carros de F1 lado a lado e
ontem vimos isso por 3 ou 4 vezes. Pode não se gostar do som, da forma dos
carros, dos motores, mas que esta F1 está emocionante e interessante ninguém
pode dizer o contrário.
Público:
Sintomático. Uma corrida de F1 teve 50 000 pessoas a ver ao
vivo enquanto em Nurburgring 100000 se juntavam para ver uma corrida de
camiões. Se o espectáculo agora está bom e recomenda-se o que se passa? Será
que a teimosia de Bernie Ecclestone em não apostar nas plataformas de
informação digital, tal como a internet está agora a pagar o preço?
Incidentes:
Muitos incidentes este ano. Muita “chapa batida” e muito
carro de rodas para o ar. Já há algum tempo que não tínhamos um ano tão acidentado.
Mas felizmente os ferimentos foram mínimos. Sinal que a segurança funciona e
bem. Mas é tempo de rever a matéria e pensar bem se querem ou não que os
travões continuem a falhar. Já é a 9ª vez este ano. Começa a ser preocupante.
Próxima corrida já no próximo fim de semana na Hungria. Tudo para seguir no nosso blog.
Fotos:
retiradas do facebook das equipas
Fábio Mendes
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