Sensivelmente à 2 meses atrás, um seguidor nosso perguntou se alguém iria ver o GP de Espanha. Assim que vimos que poderíamos ter um "enviado especial", convidamos Mário Damião a enviar-nos umas fotos. Mas pensamos melhor e achamos que seria mais proveitoso conhecer a opinião de um fã que pôde sentir ao vivo o que é esta nova F1. Nada melhor do que alguém que viu e ouviu de perto para nos dar uma visão mais real. Amavelmente, Mário Damião aceitou o nosso desafio de responder a algumas perguntas. Aqui fica o resultado desta entrevista "à distância".
Desde que me lembro que existo que sou fã deste desporto.
Mas foi nos anos 80 que me comecei a tornar um “formula 1-dependente” (nasci
nos anos 70). Morava perto do circuito do Estoril e sempre ouvi os carros a
partir da minha casa, e creio que foi na ascensão do Ayrton Senna que o meu
interesse se transformou em paixão.
Quantos dias esteve
no Circuito da Catalunha? A seu ver o evento estava bem organizado ao nível da
recepção dos fãs, das condições proporcionadas e das infraestruturas? E já
agora em que zona estava? Sentiu algum tipo de dificuldade nas suas deslocações
e na estadia no circuito?
Só consegui comparecer mesmo no dia da corrida. Já tinha lido algumas opiniões na internet sobre a qualidade da organização e as condições proporcionadas e genericamente a apreciação era positiva, mas ainda assim levava algumas reservas, nomeadamente por opiniões sobre a parca oferta de comidas, falta de informação, etc. Optei por utilizar o transporte posto à disposição pela organização (Sagalés) e que devo dizer, funcionou lindamente. Autocarros partiam do centro de Barcelona em direcção ao circuito (e vice versa) com abundância tal, que aqueles milhares de pessoas se escoaram em menos de nada. À chegada, uma pequena caminhada até ao autódromo, e daí as indicações necessárias para chegar até ao meu lugar foram mais do que suficientes.
Comprei um bilhete
(caríssimo) para a bancada “E”, situada no final da recta da meta, pouco antes
da curva 1, um belíssimo lugar. Os pilotos travavam para a curva mesmo à minha
frente. Era o sítio onde mais se ultrapassava e isso exponenciou o espectáculo.
Em termos de infraestruturas, a oferta era bastante boa... stand's de vendas
por todo o lado, quiosques de “comes e bebes”, diversidade de comidas e bebidas,
uma tenda que reunia stand's das principais equipas e uma área de jogos onde
decorria uma espécie de desafio num simulador de formula 1... Contudo a oferta
de WC era escassa e nomeadamente as senhoras tinham sempre de enfrentar fila.
Genericamente
fiquei muito bem impressionado com a organização e o tratamento dado aos fãs.
Muita eficiência nos transportes postos a disposição, muitos elementos do staff
disponíveis para ajudar o pessoal a encontrar o lugar, etc. O autódromo tinha
um aspecto muito bem cuidado, e não se notou em nada que estava num sitio construído
no inicio dos anos 90. Para repetir.
Quais foram as
sensações ao ver os carros ao vivo? Houve algum que o atraiu mais? E o mais
feio?
A sensação de ver os carros ao vivo foi... Esplêndida!
Assistir a batalhas entre pilotos a poucos metros de mim foi mesmo muito bom. É
impressionante ver carros a fazerem ultrapassagens a perto de 320km/h e
travarem fortíssimo, mesmo à minha frente. Adorei ver os carros. Uma corrida de Fórmula 1 ao vivo supera a melhor transmissão televisiva. Porque estava no
final da recta da meta, a velocidade dos carros era elevada pelo que a beleza
dos mesmos não era facilmente “apreciável”. Aqueles “narizes” horrorosos que
vemos nas fotos, passam muito bem despercebidos vistos àquelas velocidades, por
isso não me posso queixar verdadeiramente dos carros feios (embora os ditos
“narizes” sejam uma das grandes desilusões deste ano).
Mas tendo que dar uma
opinião sobre os mais e os menos feios, eu diria que os Mclaren eram os mais
vistosos, e no lado oposto os Ferrari eram os mais “carrancudos”.
E em relação ao som
dos motores, o que achou? É de facto motivo para preocupação ou na pista o som
é mais agradável do que na TV?
Em bom rigor o som é... Absolutamente horroroso, eu diria
que consegue roçar o ridículo. A categoria rainha do automobilismo não merece
apresentar-se com aquele som. Não se distingue o som “puro” dos motores. O som
é muito abafado, é escamoteado pelo som do “ERS”, desapareceram os clássicos
“rateres” que tanto me deliciavam nas trocas de caixa... Na verdade quase nem
se ouvem aquelas fortíssimas reduções de 5 relações em 2 segundos no final da
recta da meta... O som é a grande desilusão nestas novas unidades motoras.
Desde da última era turbo, à passagem pelos V12, V10 e V8 que as potências têm caído,
as melhores voltas têm sido em tempos superiores e nunca ninguém se insurgiu
contra isso, mas agora com o novo som, veio a desilusão. O que ouvimos na TV é
na minha opinião o mesmo que ouvimos ao vivo. No tempo dos motores aspirados
mal se aguentava o ressoar nos ouvidos, agora mal se consegue distinguir uma
troca de caixa. Os fãs não merecem...
É fácil seguir as
incidências do GP nas bancadas do circuito? Foi tão notória nas bancadas a
recuperação do Vettel por exemplo ou a luta entre Hamilton e Rosberg?
É muito fácil sim ! Mesmo em frente à bancada “E”, e à
semelhança de outras posições no circuito, estava montado um ecrã gigante que
suponho estaria a passar as imagens transmitidas pelos canais de TV, pelo que o
público acompanhou com entusiasmo tudo o que se passava fora do alcance da área
de visão. Para além disso ouvia-se (infelizmente com facilidade) uma voz em
castelhano que ia relatando as incidências durante a corrida. Para mim, português
(e para ser franco não dei por nenhum português por onde passei) e para os espanhóis
era fácil perceber o que se passava, agora para os milhares de ingleses que por
lá estiveram... só mesmo acompanhando as imagens dos ecrãs gigantes.
A partir
de determinada altura na corrida, foi-se percebendo a ascensão do Vettel na
corrida, e isso também foi sendo motivo para levantar os espectadores na
cadeira. Pelo número de ultrapassagens, pela luta que teve com o Alonso, e pela
espectacular posição final que alcançou. Na minha opinião resultou da
estratégia de pneus e pelo facto de o Red Bull estar com uma performance cada
vez melhor. A luta entre Rosberg e Hamilton foi fundamentalmente nas últimas
voltas, porque até aí o piloto inglês foi quase sempre aumentando o “gap” para
o alemão. Só mesmo nas últimas voltas é que o Nico se chegou ao primeiro lugar,
ainda assim, e sem a espectacularidade da batalha travada no Bahrein, Lewis dá
conta do recado e defende bem a posição. Queremos mais...
Caso tenha visto um
GP anteriormente que comparações pode fazer e quais as maiores diferenças com
que se deparou?
Nunca tinha ido a um grande prémio antes. Já assisti algumas vezes a sessões de testes, tanto com os V10 como com os V8, mas não poderei comparar grandes prémios. Fica sim a nota de haver uma evolução tão negativa no som dos motores, como já tinha referido antes.
Sim, sou um admirador do Lewis Hamilton, e segui atentamente a sua evolução ao longo da corrida, regozijo-me com as suas vitórias, ainda que para os que não são fãs, se possam atribuir às qualidades do carro e não do piloto, mas desde que este senhor entrou para a Mclaren que me despertou especial atenção.
O que acha da
situação actual da F1? Concorda com as mudanças introduzidas? Acha que essas
mudanças melhoraram o espectáculo?
A Fórmula 1 está actualmente numa fase de transição, pelo que estamos todos à espera para ver o que vai acontecer no futuro. Concordo que era necessário fazer mudanças na Fórmula 1. A era V8 estava um pouco saturada, creio que por parte dos grandes construtores de motores já havia algum desinteresse e que era mesmo preciso introduzir mudanças profundas para que, com o lançamento de novos desafios, as marcas voltassem a arregaçar as mangas e com isso aguçar o entusiasmo.
Ainda assim penso que por parte das entidades
competentes se está a dar mais importância ao “laboratório” de desenvolvimento tecnológico
do que à componente “espectáculo”. É evidente que é preciso estimular as marcas
a fazer cada vez mais com cada vez menos, mas não se pode descurar que este é
um desporto “espectáculo” e que aspectos como o som dos motores, os “rateres”,
as velocidades atingidas, etc., são fundamentais para fidelizar os fãs. Todos nós
adoramos quando se diz que um motor de 1600 cc consegue debitar 600 cv, mas
chegamos à corrida e não os ouvimos, e isso é uma desilusão.
Eu adorei ver os
carros a saírem das curvas 1 e 2 com dificuldade em controlar a tracção,
(suponho que devido ao elevado binário dos motores e pouco apoio aerodinâmico)
e isso é espectáculo, mas a verdade é que os carros estão cada vez menos
potentes, há uns bons 7 ou 8 anos que não se bate nenhum recorde de pista e
está-se cada vez mais longe disso. É preciso agradar aos construtores, aos
patrocinadores e... aos fãs.
A quem esteja a
ponderar ir ver um GP ao vivo, aconselha a experiência?
A quem é admirador de Fórmula 1, a experiência de assistir a
um grande prémio ao vivo é o melhor investimento que pode fazer. As sensações
que daí advêm não se obtém por mais nenhum meio e são inigualáveis. Ir a
Montemló ver esta corrida proporcionou-me um prazer com que até aqui, só
sonhava. Dói na carteira, mas compensa no coração.
Já agora para
finalizar, qual a sua opinião sobre o blog Chicane?
Obrigado Chicane !
Agradecemos ao Mário Damião por ter aceite o nosso desafio e ter partilhado connosco as sensações de assistir ao vivo a um GP de F1. As suas respostas deram-nos uma ideia clara do que encontrou lá e as suas opiniões foram expostas de forma clara. Mais uma vez muito obrigado.
Fotos:
retiradas de google.pt
Fábio Mendes
Fábio Mendes
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