domingo, 10 de novembro de 2013

Kimi &Lotus: Um final que podia ter sido bem mais feliz.

A notícia não apanhou ninguém de surpresa. Kimi Raikkonen não vai mais correr pela Lotus este ano, para ser operado às costas. Depois de todo o mau estar em volta do Iceman, era provável que algo do género acontecesse. Mesmo que não seja verdade, é a melhor decisão para ambas as partes. No meio deste falatório, todos tem a perder com a actual situação.

Quanto a nós é uma pena que este “casamento” chegue ao fim da pior forma. Esta dupla fez sonhar muita gente que era possível que uma equipa com menos recursos que os grandes do paddock, conseguisse levar a melhor. E esta relação de dois anos fez bem a toda a gente. Porque acabar de costas voltadas?

Kimi Raikkonen foi “convidado” a sair da Ferrari em 2009, tendo vencido o campeonato em 2007 e não havendo dúvidas que era um dos pilotos de top. Mas fez um ano de sabática ( um ano que durou 3), foi dar umas voltas ao WRC e ao Nascar, para se entreter, participando também noutras competições. Mas é sabido que estas paragens não costumam beneficiar os pilotos e que quando regressam, a dificuldade em voltar ao nível que tinham é grande ( Sua alteza Schumacher que o diga. Nunca mais conseguiu acertar num tempo de travagem estragando muitos “pára-choques” ao seu Mercedes. A idade...).

A Lotus vinha de um processo de reconstrução, depois da compra por parte da Genni da antiga equipa Renault. A associação da Genni ao grupo Lotus foi uma excelente noticia para todos os fãs da F1. E quando vimos que a equipa passaria a usar o preto e o dourado no carro, todos sorrimos recordando outros tempos. Faltava no entanto uma peça neste xadrez. E a peça escolhida foi Kimi. 

A Lotus ofereceu a Kimi a porta de entrada para a F1. Não uma demasiado pequena e não correspondente ao valor do Iceman, nem uma demasiado grande o que facilitou a vida do finlandês, não tendo de lidar com expectativas demasiado altas logo no ano do seu regresso. Era o ideal para as duas equipas. Kimi iria voltar a ganhar forma e ajudar a desenvolver uma equipa em crescimento e a Lotus aproveitaria a legião de Fãs do finlandês para se dar a conhecer ainda mais e para crescer a nível publicitário e desportivo. A fórmula resultou em cheio.

Carros que ainda não eram sombra para os grandes mas que conseguiam ser competitivos o suficiente para andar nos lugares da frente, uma equipa de marketing que conquistou todos com o seu humor característico, um piloto adorado por muitos e respeitado por todos, que mostrou que vinha em forma, tendo prestações espectaculares, aliado ao seu estilo "Bad Boy" a relembrar os tempos de James Hunt. A F1 voltava a vibrar com um carro preto e dourado.

No entanto e como acontece muitas vezes, o dinheiro apodreceu a relação. A Lotus, embora em crescimento, não tinha dinheiro para tornar os carros competitivos o suficiente para lutar verdadeiramente pelo titulo, ideia à qual Kimi se afeiçoou, quando começou a aparecer no pódio de forma sucessiva. Não tinham dinheiro sequer para lhe pagar a tempo e horas. Foi o dinheiro que esfriou a relação. E a Ferrari, ao estilo italiano, chegou a Kimi, como se de um Galã se tratasse e puxou de argumentos que certamente seriam irrecusáveis (dinheiro e garantia de condições para lutar pelo titulo, juntando a isso o desafio de tentar fazer melhor do que aquele que tinha sido considerado por muitos, o melhor piloto de há 3 anos a esta parte… Alonso). Era difícil a Kimi recusar, sabendo que do outro lado tinha uma Lotus de calças na mão, a tentar desesperadamente encontrar parceiros para financiar a equipa. “ Se estes tipos nem sequer conseguem pagar-me, como é que vão ter dinheiro para fazer um carro melhor?” terá pensado Kimi.

Kimi aceitou o desafio Ferrari. Não tanto pelo dinheiro mas por aquilo que pode conquistar em Maranello e pela historia que pode escrever.

Resultado? A Lotus amuou. Fez beicinho e bateu com o pé no chão. Tinham sido eles a trazer Kimi de volta para a F1 e o finlandês “traiu-os”. A traição doeu muito. Mas como em qualquer casal, se uma parte não está contente com o que tem em casa, tem tendência a aceitar de fora o que não encontra dentro de portas.

A partir daqui a Lotus começou a tratar Kimi como 2º piloto, dando a Grosjean (e ainda bem para ele) o papel de 1º piloto, como se de um castigo se tratasse. Kimi não se importou e continuou a fazer o que melhor sabe. Pilotar de forma excelente ( embora não de forma tão clara como no inicio do ano). Como o castigo não resultou, a equipa perdeu a cabeça, chegando ao ponto de berrar aos ouvidos de Kimi numa corrida. Com isso o caldo entornou. Kimi não tinha muitas mais soluções a não ser sair de forma discreta (o ambiente era insustentável e seria preciso um par de bolas do tamanho de Marte para aguentar o que estaria para vir) e a Lotus, que começou a perder Fãs por todo o mundo, teve de acabar com a “hemorragia”. Assim estava declarado o divórcio com separação de bens.

É pena acabar assim. Quando se falava na Lotus era inevitável não ter um sorriso. Era o carro que mesmo com o nariz “à Prost”, continuava a ser dos mais lindos, era Kimi que aos fins-de-semana nos mostrava como se conduz, eram os posts geniais no Twiter, eram as frases “Leave me alone…”, “Yes, Yes, Yes” e agora mais recentemente “ Get out of the Fucking way”. Tudo isso trouxe um balão de ar fresco a uma F1 cada vez mais politicamente correcta. Todos nós, intimamente, mesmo gostando mais da Ferrari ou McLaren ou Red Bull até, tínhamos um fraquinho pela Lotus.

A Lotus dificilmente encontrará um piloto com o talento e o carisma do Iceman. Kimi dificilmente encontrará o conforto e o à vontade para fazer o que quiser, como teve na Lotus (como aparecer com uma lata de cerveja na foto de equipa, "Hunt Style"). Foram se calhar os melhores anos de Kimi e da Lotus. Infelizmente há sempre um italiano bem vestido e com um Ferrari à porta que vem estragar uma bonita relação.

Caramba como eu gostava de ter visto Kimi campeão na Lotus este ano.





Fábio Mendes

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