segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Formula 1: um sem fim de problemas e poucas soluções propostas.

A Fórmula 1 já viveu dias melhores e infelizmente começa a perder algum terreno para outras modalidades. É certo que continua a ser um dos desportos motorizados mais vistos em todo o mundo, que é o desporto tecnologicamente mais avançado e que as inovações que são usadas nos monolugares poderão de alguma forma serem úteis para o nosso dia-a-dia. A F1 é ciência em constante evolução, a uma velocidade estonteante. Mas ainda assim a F1 parece começar a perder o interesse. O porquê desse fenómeno?  

Razão 1: Os Pilotos.
Já o referimos algumas vezes mas teremos de o fazer de novo. Os pilotos de hoje em dia são muito diferentes dos que fizeram, no passado, a F1 crescer. O carisma, o carácter, a forma de estar dos pilotos agora é diferente. São máquinas eficientes, que levam a vida completamente dedicada ao desporto, cujo único objectivo e dar o máximo nas corridas. Não os devemos culpar, pois o desporto evoluiu assim e quem não o fizer está condenado ao fracasso. Mas falta uma vertente mais humana ao desporto. Algo que Kimi faz ou até mesmo Webber faz. A espontaneidade, a honestidade. E também já não há rivalidades como havia no passado. O sal e a pimenta do desporto. A F1 está demasiado politicamente correcta começando pelos pilotos.  

Razão 2: A evolução dos carros.
Sempre foi o calcanhar de Aquiles da F1. A evolução é a palavra de ordem da F1. Os carros agora são maravilhas tecnológicas, que desafiam todos os limites. Mas a evolução vem com um preço. Basta lembrar a Ferrari dos tempos de Schumacher ou a Red Bull de Vettel. O domínio do carro é tal que as pessoas desconfiam do talento dos pilotos. Ninguém duvida que Vettel, noutro carro, não teria um domínio tão avassalador. Mas será justo diminuir desta forma o seu talento? É óbvio que as pessoas gostam da parte tecnológica do desporto (acho que essa parte é fenomenal mas tende a ser menosprezada), mas o que verdadeiramente interessa é o confronto dos pilotos. O confronto de estilos, de talentos. O espírito mais primitivo da competição, em que os homens lutam entre si e os carros apenas são meras ferramentas. Esse sempre foi o grande trunfo da F1 e que com a “falta de sal” dos pilotos, juntamente com a enorme evolução dos carros, se tem esfumado nos últimos tempos.
 
E a evolução dos carros é muito cara. O que leva a que apenas as equipas com mais dinheiro possam ter capacidade de lutar por vitórias. 
E tudo isto leva a maioria a desacreditar no desporto. Afinal é só por causa do carro que ele venceu. Quando o lado mais humano do desporto é desvalorizado, as pessoas tem tendência a dar menos valor ao desporto.

Razão 3: O dinheiro.
Como toda a F1 é uma questão de tecnologia e inovação, quem tiver mais dinheiro para evoluir mais facilmente vencerá. E isso levou as equipas a gastar fortunas. O que faz com que agora o desporto seja muito difícil de gerir. Afinal a crise que afecta o mundo há quase 10 anos, também se faz sentir no mundo rico da F1. Além das grande equipas terem mais dificuldades em financiarem-se, as pequenas equipas lutam diariamente para sobreviver. E isso leva a que se crie um fosso muito grande entre os ricos e os menos ricos do Paddock, o que origina uma queda da competitividade.

Outro problema, que a falta de dinheiro (ou o gasto exagerado) implica, é o uso de cada vez mais pilotos pagantes, que mesmo sem ponta de talento para conduzir um F1, vão se mantendo no desporto apenas porque tem bolsos fundos e cheios de notas. E a F1 deveria ter apenas os melhores. A Modalidade nº1 do automobilismo devia ter apenas os mais talentosos. Mas hoje em dia isso não acontece, pois por vezes o talento é secundário e o dinheiro é que abre as portas. Só assim se explica que Hulkenberg não seja piloto da Lotus neste momento e que seja Maldonado o escolhido.

Além disso há muitos interesses no desporto. Bernie Ecclestone tem demasiado poder e a sua visão não tem favorecido em nada a F1. A busca incessante de dinheiro, para que não fique a perder ( ele e os seus amigos), levou a erros que custaram bastante à modalidade. Ir para o Bahrain, onde as condições politicas e sociais são conhecidas e onde o povo não queria a prova no seu território, diz bem do que Bernie é capaz de fazer por um bom lucro.


Razão 4: O afastamento do público.
Penso ser esta a razão maior para o declínio que se vive. Os problemas acima mencionados sempre foram uma constante ao longo da vida da F1. Mas se o grande circo já era um mundo elitista, ultimamente isso faz-se sentir cada vez mais. O público é cada vez mais posto de parte. Sim temos conferências de imprensa, entrevistas, vídeos de tudo que se passa. Mas falta algo. Por exemplo, o facto de a FIA não autorizar os famosos “donuts”. Para o público é muito bom ver o piloto festejar. O festejo mistura o som do motor, o fumo dos pneus queimados, o movimento do carro. Tudo que procuramos numa corrida, ali concentrado num momento. Mas por vontade da FIA isso nunca aconteceria. Segurança, dizem eles. Ok somos a favor da segurança e não queremos que isso seja posto em causa. Mas caramba uns simples donuts vão matar alguém? 

Este é apenas um exemplo do que se passa. Outro exemplo é o esquecimento de pistas fantásticas e com muita história, para que possam existir corridas em outros países onde o dinheiro flui com mais força. Mas será que essas pistas têm a qualidade para nos dar boas corridas? Pelo que se tem visto não.

Cada vez mais a F1 servida de maneira fria, tanto pela FIA, como pelas equipas e pilotos. A Lotus durante esta época deu uma receita para as equipas ultrapassarem esse vazio. Original, com poucos custos e onde a adesão dos fãs foi grande.

Mas o maior problema é a transmissão das corridas. Antigamente a malta via a F1 em canal aberto. Todos viam, ou davam uma vista de olhos ao que se passava. Desde que a grande maioria dos países passou a transmitir as corridas em canal fechado, os fãs foram abandonado e apenas os apaixonados se mantiveram e tentam ver as corridas. Perderam-se muitos adeptos com as transmissões em canal fechado.

As pessoas querem entretenimento de acesso fácil. Se para ver uma corrida tenho de me levantar as 6 da manhã, ( o que tem de ser... ninguém tem culpa dos fusos horários) e das duas uma, ou pago uma fortuna por um serviço de televisão, ou sujeito me a uma transmissão com menos qualidade por outros meios, a vontade da maioria diminui e muito. É preciso gostar mesmo para se sujeitar a isso. Não era melhor transmitir em canal aberto para que quem goste veja e quem não gosta tanto tenha possibilidade de ver também e passar a gostar?


É preciso que os fãs voltem em força para a F1. Havendo mais fãs haverá mais vontade de patrocinadores entrarem. Mais patrocinadores, implica mais dinheiro para a modalidade. Mais dinheiro poderá implicar que a modalidade volte a ser competitiva, pois mais equipas poderão melhorar e aproximarem se dos grandes do paddock.

Como fazer isso? Dar liberdade de expressão aos pilotos, proporcionar corridas emocionantes com final inesperado, e permitir que o publico tenha acesso fácil a tudo isto.
  
A F1 sempre esteve no fio da navalha no que diz respeito ao seu sucesso, mas de uma maneira ou outra sempre foi conseguindo uma larga franja de adeptos. Mas é necessário que sejam pensadas soluções para que volte a existir uma F1 à antiga. Emocionante, que cativa as pessoas, com história, com surpresas e acima de tudo  acessível a todos. Só assim o futuro poderá estar garantido.






Fábio Mendes

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