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Carlos Alonso nos tempos da Goodsense |
Com o fim-de-semana mais aguardado do ano em Vila Real à
porta, e com a agitação em torno do circuito, tentamos ver as corridas do outro
lado das redes. Do lado da pista, de quem se senta ao volante das máquinas e
cruza as ruas da cidade em velocidades estonteantes.
Convidamos o piloto Carlos Alonso para nos dar o seu ponto
de vista. O convite foi aceite prontamente e o encontro marcado no Autódromo
Virtual de Vila Real. A conversa decorreu num tom bem disposto onde descobrirmos
muitas histórias interessantíssimas, com boas gargalhadas à mistura.
Foi mais de 1 hora e meia de conversa que passou a correr.
Deixamos aqui os principais tópicos da entrevista:
Há quanto tempo é que
competes e como começou esta tua aventura?
Comecei em 2006 no desafio Seat que juntou 400
universitários de todo o pais que teve a fase final no autódromo do Estoril, onde cada uma das 10 universidades presentes estavam representadas por 2 pilotos. A prova estava
dividida para os 1ºs e 2ºs classificados, em que eu venci a manga dos 1ºs e o
André Martins venceu a manga dos 2ºs sendo a primeira vez que uma universidade
teve a pontuação máxima na prova.
Quis continuar no mundo da velocidade e tinha um orçamento
para comprar um Clio para participar no troféu, mas a minha família não tinha a
tradição das corridas e não apoiou muito a ideia e como tal adiei o sonho. Entretanto
em 2007, com o regresso das corridas em Vila Real, pude ver a realidade do
paddock e das corridas por dentro e foi algo que me desmotivou um pouco, pois
com tanta gente de qualidade a correr e com as dificuldades para entrar num
mundo tão difícil, onde ajuda muito ter um nome com ligações ao desporto
automóvel, pensei que talvez não compensasse o grande esforço que teria de
fazer.
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Carlos Alonso com Nuno Reis no autódromo de Portimão |
Mas em 2010 resolvi usar o orçamento que tinha para correr
em Vila Real em 2011. Para isso aluguei um radical à Martins Speed e fui fazer
uma prova ao Autódromo do Algarve para testar e ver se tinha condições para ser
competitivo, algo que se verificou pois fizemos um pódio, embora com poucos concorrentes .Eram mais
que 3 não se preocupem ( risos).
Entretanto por um golpe de sorte comecei a trabalhar com uma
empresa promotora de eventos chamada GoodSense
Racing Team, cujo proprietário queria competir e me convidou para pilotar
com ele. Uma vez que o proprietário tinha uma agenda preenchida houve
necessidade de encontrar outro piloto e foi com ele que chegamos a liderar o campeonato
em 2011. Entretanto uma série de azares com o carro e problemas no fornecimento
de pneus levou a uma queda gradual até ao 3º lugar nacional, tornando-se
inglório depois de liderar a prova. Fizemos também provas em Espanha onde as
provas não correram tão bem.
Tinhas/tens algum
piloto como referência?
O Francisco Carvalho ( ndr: com quem vai partilhar o carro na prova vila-realense) é sem duvida uma referência para mim,
pois para além de ser um excelente piloto e muito versátil, ajudou-me muito no
inicio. É um piloto muito “bravo” e continua a ser muito mais rápido do que
muitos jovens, seja em que carro for. No início como ele também corria num Aston
Martin era a referência que tinha para comparar os meus desempenhos e ver onde
podia melhorar.
Mas as corridas são
um mundo onde existe rivalidade dentro de pista mas fora das pistas. Pode-se
esperar ajudas por parte dos adversários?
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O Aston Martin que Alonso irá usar em Vila Real |
Nem por
isso, e até há alturas em que as dicas que se recebem não servem para ajudar,
antes pelo contrário. Mas isso é justificável pois o investimento que as
equipas fazem é avultado e para se chegar a um "set up" correcto por exemplo, é
preciso gastar muito dinheiro. A única forma de ter retorno desse dinheiro é
tendo bons resultados e como tal não se pode dar a um adversário uma informação
muito concreta pois assim estamos a deitar dinheiro fora.
Mas o Francisco Carvalho por exemplo, foi sempre muito honesto desde inicio e ajudou-me verdadeiramente e talvez por isso a amizade tenha crescido entre nós.
É muito difícil entrar no mundo automobilístico?
Mas o Francisco Carvalho por exemplo, foi sempre muito honesto desde inicio e ajudou-me verdadeiramente e talvez por isso a amizade tenha crescido entre nós.
É muito difícil entrar no mundo automobilístico?
É muito difícil! Em 2011 tive a sorte de estar no momento
certo, no sítio certo, correu tudo bem. Estava contente com tudo o que tinha,
as oportunidades caiam-me do céu, mas se soubesse o que sei hoje, se calhar não
tinha corrido em GT4 mas sim em GT3. Agora sei que teria sido possível, na
altura não. É muito difícil entrar, é um desporto muito caro, é preciso haver
um investimento inicial e colher mais tarde, se se colher!
Com certeza que
tiveste vários momentos que te marcaram, e a primeira qualificação terá sido
uma delas.Como correu?

Outra prova que me marcou também foi em Albacete, num fim de semana que me correu muito bem e onde consegui um ritmo superior ao do Francisco Carvalho. Foi a primeira vez que fiquei acima da minha referência. Foi um fim de semana em que entrei com tudo e correu muito bem em termos de performances pessoais. Infelizmente, como comprovado na telemetria do Aston, fiquei sem travões na última volta e acabei por bater.
O que achas do circuito de Vila Real?
É uma pista
que eu gostaria muito de ter feito em ambiente de competição nas condições
de 2011 ou 2012. Embora todas as pistas
seja diferentes, ao nível das citadinas é claramente superior à Boavista, que
embora tenha um ambiente espectacular, que tem como ponto de maior interesse a
descida de Circunvalação e pouco mais, sendo o miolo pouco interessante. Em
Vila Real há muitos pontos de pista técnica e o traçado tem características de
um circuito. E o traçado actual não fica nada a dever ao antigo, com as
melhorias de segurança. A zona que vai da MCoutinho até a rotunda do Boque, não
é como no Porto em que tem recta e uma travagem para uma “esquina”. Em Vila
Real é muito mais fluido e isso torna a pista muito mais interessante.
Qual é a zona do circuito que mais te atrai e onde achas que é o ponto chave do circuito onde se pode ganhar ou perder muito tempo?
Qual é a zona do circuito que mais te atrai e onde achas que é o ponto chave do circuito onde se pode ganhar ou perder muito tempo?

Ao nível do teu carro quais são as características que realças do teu Aston?
Para a
classe a sua mais valia é o motor, que é dos mais potentes. É um V8, 4.7L, 430CV,
enquanto os outros carros da categoria andam por volta dos 400 ou abaixo. O
factor que não o favorece é o peso que anda à volta dos 1300 Kg. Mas é um carro
que ao nível do retorno de imagem é claramente apelativo pois é um carro bonito
e que conquista mais as pessoas.
Tirando Vila Real qual é o teu circuito
nacional/internacional preferido?
O autódromo
de Portimão é sem dúvida uma pista excelente, por ser um traçado exigente e
técnico, mas tem o problema de estar no sítio errado. O Estoril é sempre
especial pela história e por ter corrido e vencido lá a minha primeira prova. A
nível internacional tive oportunidade de correr no circuito da Catalunha mas
não o pude fazer, algo que me deixou muito triste, pois era aquele que queria
fazer. Mas é muito complicado avaliar pistas sem estar lá pois é muito
diferente ver na TV e estar nas pistas. Para dar um exemplo, o final da recta da
meta do Estoril não conseguia ver a curva e o declive surpreendeu-me, algo que
nem nas bancadas se nota muito, como tal avaliar as pistas só pelo que se vê na
TV pode ser enganador.
O melhor carro que conduziste até hoje? E qual aquele que gostarias de ter?
O melhor carro que conduziste até hoje? E qual aquele que gostarias de ter?
O M6, pelo
motor, o Gallardo Superlegera e o Panamera Turbo, que me surpreendeu pela sua
qualidade. Em relação ao carro que gostaria de ter…
toda a gente pensa nisso quando faz o Euromilhões… o Aventador, o 458 Italia seriam as minhas
opções.
Do panorama actual há algum piloto
internacional que consideres ser o melhor?
Alonso
obviamente porque tem um nome interessante (risos). É reconhecido por todos
como o piloto mais completo e que consegue sempre boas prestações.
E para o futuro o que
te está reservado?
Tinha num passado recente pensado em alguns projectos mas
que ficaram suspensos, mas há algo muito mau no desporto motorizado nacional
que é a falta de definição atempada dos calendários, para conseguirmos os
apoios necessários. Agora tenho vários negócios, que embora pequenos são a
minha grande prioridade e que me ocupam muito tempo e uma vez que é muito
difícil ser piloto profissional em Portugal é complicado abdicar destes projectos.
Mas uma vez que consegui arranjar apoios para esta corrida poderá que algo
aconteça no futuro. Nada está definido mas há essa possibilidade.
O tempo passou a correr e tivemos de dar por encerradas as
“hostilidades”. O bom ambiente foi uma constante e foi uma conversa deliciosa
para quem como nós é fã do desporto motorizado. Ter a perspectiva de um piloto,
que nos mostrou de forma clara e agradável o que é ser piloto é algo precioso.
Agradecemos mais uma vez ao Carlos Alonso a disponibilidade que mostrou
respondendo a todas as nossas perguntas. Agradecemos também ao Ricardo Mingos
que proporcionou este feliz encontro, ao Ricardo Veiga pelo material que não soubemos usar devidamente, o
que mostra claramente o nosso nível de profissionalismo. Foi um serão passado
de forma espectacular no Autódromo Virtual de Vila Real.
Ao Carlos resta-nos desejar a maior sorte do mundo para a prova deste fim de semana e esperamos que regresse a competir a tempo inteiro, sendo certo que terá já uma forte falange de apoio a torcer por ele… O Chicane claro.
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A equipa Chicane agradece ao piloto e deseja as maiores felicidades a Carlos Alonso. |
Perguntas:
Fábio Mendes
Pedro Mendes
Carlos Mota
Montagem do texto:
Fábio Mendes
Pedro Mendes
Imagens:
Google.pt
Imagens cedidas pelo Carlos Alonso
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