quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Na primeira pessoa II - Quando ser português é um defeito…

Ao longo dos anos fomos vendo vários pilotos de diversas nacionalidades a serem campeões do mundo, em diferentes vertentes dos desportos motorizados. Alguns que não o chegaram a ser, foram ainda assim aposta das grandes marcas, ou de grandes equipas, com grandes estruturas montadas em volta dos mesmos, mas por uma ou outra razão, não atingiram os “louros”. Mas o curioso é que nunca um português teve esse estatuto de grande piloto, que tenha ficada para a história, por um título marcante, ou ter corrido numa equipa de grande ambições. Porque sejamos sinceros, o que malta queria, era um campeão do mundo de Formula 1, ou mesmo de ter um homem nos lugares cimeiros no WRC, ou um piloto vencer  num grande prémio de Moto GP. Nunca tivemos.

Outros feitos formam atingidos, sim. E com grande mérito por parte de nossos compatriotas, mas a verdade é que mesmo vencendo nunca foram tratados como tal. Campeões. Vamos a nomes.

Talvez o Todo Terreno tenha sido a área dos “motorsport” em que tenhamos tido mais sucesso. Por exemplo Carlos Sousa que em 2003 se sagrou Campeão da Taça do Mundo de Todo-o-Terreno e da Taça FIA de Pilotos de Bajas, mas na prova rainha, o Dakar, nunca fora além de um 4º lugar final, sendo sempre visto dentro da marca nipónica Mitsubishi como o “elo mais fraco”.
  
Hélder Rodrigues, o primeiro português a sagrar-se campeão Mundial de Todo o Terreno na vertente de Motos, também nunca viu o seu valor ser reconhecido, pois o material que dispõe para um Dakar não é suficientemente competitivo para vencer a “tal prova”. Ainda nas motos de TT, Ruben Faria, teve que este ano “ceder” a vitória no Dakar a Cyril Despres, chefe de fila…

Nas pistas, a história é a mesma. Ao longo dos anos vamos vendo pilotos crescer, com qualidade, a baterem-se com os melhores nas diversas etapas de formação de pilotos e…ficam por ai. Não conseguem atingir o topo, porque falham os apoios, falham os investidores, e quando há um lugar…os portugueses não o agarram.

Pedro Lamy, quanto a mim o melhor piloto português de se sempre (para já), é um exemplo. Talvez tenha passado ao lado de uma grande carreira. Não é que a sua carreira seja de desprezar, muito pelo contrário, mas com a qualidade demonstrada, podia muito bem ter sido um piloto de grande relevo no panorama mundial. Com diversos títulos nas “fórmulas”, Lamy chegou a Formula 1 pela mão da Minardi. Óbvio que nada podia fazer com o carro que dispunha, mas também não lhe foi dada a oportunidade de competir com uma melhor “carcaça”. Dai para a frente, andou pelos Turismos e GT´S, tornando-se um piloto referência nessas áreas. A ida para a Peugeot para as 24h de Le Mans, levou-o a ser 2º na mítica prova, mas o português nunca foi reconhecido pela marca francesa, sendo sempre um dos pilotos com menos minutos em pista. Saiu pela porta pequena. Hoje corre em categorias mais baixas nos GT´S. Muito pouco para o seu enorme talento.
  
Também no grande circo, Tiago Monteiro andou por lá. Sem um carro muito competitivo também, mas que fez dele o melhor representante português na F1 de todos os tempos. Dois anos mundial de F1, um pódio (na famosa corrida a 6 em Indianápolis). Nesse mesmo ano e em condições normais de corrida Monteiro faz 10º e consegue mais 1 ponto no mundial, batendo no braço diversos pilotos com melhores máquinas. Foi no circuito de Spa na Bélgica, debaixo de um diluvio que conseguiu tal milagre, visto que o seu Jordan era uma autêntica “lesma” em pista. Termina o ano como melhor “rookie”. Na segunda época, mudou-se o nome da equipa, as cores, mas o carro era igual…fraquinho. Monteiro perde o lugar para um tal Adrian Sutil fazendo dupla com Albers, que nunca tinha sido mais rápido que Monteiro nos dois últimos anos…

Também nas pistas, Albuquerque, Parente ou mesmo Campaniço, todos eles pilotos de grande qualidade, sempre pela mesma razão não atingiram o nível que se esperava face as suas potencialidades.


Nos ralis também há historias. Armindo Araújo andou 2 anos de Mini…bom, tentou andar. Um projecto montado em volta de uma marca oficial, que andava menos que um carro Mini privado?! Verdade, o português levou gato por lebre e seria difícil fazer melhor. Valeu os títulos de PWRC que lhe valeram a distinção de piloto do ano WRC em 2010. Hoje em dia, diverte-se a fazer enduro…está sem assento para competir.  

Por estas e por outras pergunto eu, ser português é um defeito?

António Félix da Costa e Miguel Oliveira têm a oportunidade de mudar esta resposta. Mas enquanto isso não acontece…ser português é de facto um defeito.



Carlos Mota


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