O cinema está a voltar-se para a F1 para encontrar
inspiração. E uma das maiores lutas de sempre, que agitou a longínqua época de
1976, que teve como actores principais dois pilotos diametralmente opostos, com
estilos de vida e de condução completamente diferentes, está a ser
vista por milhões de pessoas em todo o mundo. Niki Lauda ( o qual ja foi referido num post de Pedro Mendes) e James Hunt
proporcionaram um campeonato emocionante e uma história para ser contada por
muitos anos.
Interessa pois conhecer as personagens principais. Hoje
focamo-nos no excêntrico James Hunt.
Os primeiros anos de vida de James Simon Wallis Hunt, nascido
a 29 de Agosto de 1947, não faziam
prever que se tornaria num ídolo da Formula 1. Educado numa família abastada e
onde a disciplina era palavra de ordem, desde sempre que o espírito rebelde de
Hunt se revelou. Mas a seu plano de vida consistia em tornar se medico, até que aos 18 anos viu a sua primeira corrida de carros ( Mini´s) e apaixonou-se pela competição e
pela velocidade. Os pais sempre negaram apoiar esta ideia mas com esforço e
trabalho conseguiu.
Iniciou-se nas corridas de Mini´s. A estreia não correu bem,
pois o carro tinha irregularidades que o impediram de competir nesse dia. Mas
não desistiu e arranjou fundos para correr em 3 eventos. Para isso teve de arranjar patrocinadores e trabalhar arduamente.
Em 1968 entrou a na Formula Ford onde começou a dar nas
vistas pela sua rapidez mas também pela espectacularidade da sua condução. Foi
também ai que começou a apresentar ao mundo o seu comportamento tempestivo com
vários acidentes no seu currículo e varias lutas com outros pilotos à mistura também.
Iniciou-se em 1969 na Formula 3. Causou logo grande
impressão e foi considerado um dos pilotos mais promissores nesse ano.
Em 1972 começou a competir pela equipa March, em Formula 3 mas
em Maio perdeu o lugar na equipa para Jochen Mass. Hunt pediu para o deixarem
usar um dos carros que não estavam a ser usados pela equipa. O pedido foi
aceite mas a pouca fiabilidade do carro impediu-o de mostrar o seu real
valor. No GP do Mónaco, contra as ordens de Max Mosley, chefe da March, Hunt
correu com um carro de uma equipa adversária. Depois desse episódio suspendeu
relações com a March. Foi entretanto empregado pela equipa Heskethteam, que dava os
primeiros passos nas corridas. Embora o seu rendimento tenha sido fraco nas primeiras
corridas pela nova equipa, o patrão deu lhe a oportunidade de conduzir na F1, uma vez que o objectivo da equipa era competir ao mais alto nível.
De 73 a 75 ficou na Heskethteam, onde atingiu resultados
surpreendentes para uma equipa recém-chegada e não levada muito a sério pelos adversários.
Em 75 chegou a sua primeira vitoria, mas a equipa ficou sem fundos para se
sustentar e Hunt ficava sem assento na F1.
Em 76 mudou-se para a Mclaren ocupando o lugar deixado vago
por Fittipaldi ( a mudança para a McLaren não foi vista com bons olhos por parte de alguns membros da equipa uma vez que a fama do seu temperamento volátil já o perseguia). Fez o seu melhor ano na Formula 1. O confronto com Lauda
chegou a um nível espantoso. Hunt beneficiou do acidente de Lauda, que quase
lhe provocava a morte, ficando sem correr apenas 2 corridas. As últimas
corridas foram renhidas e a decisão do campeonato ficaria para a ultima prova
no Japão. Mas as condições adversas da corrida, com muita chuva fizeram Lauda
desistir. Hunt que liderou corrida a maior parte do tempo teve um final
atribulado com um furo e muita confusão na Pit Wall. Mas
no final conseguiu fazer 3º e conquistar os pontos suficientes para se sagrar
campeão.
Ficou na Mclaren até 79. Em 78 ficou marcado pela morte do
seu amigo e companheiro de pista Ronnie Peterson. Hunt tentou salva-lo e conseguiu tirar o piloto do mar de chamas mas a morte de Peterson foi
anunciada horas depois no hospital. Hunt culpou Riccardo Patrese pela morte do
seu amigo mas as imagens mostram que o italiano não tem culpa. Essa acusação
foi mantida por Hunt anos a fio e a animosidade para com o piloto italiano
também permaneceu.
Depois de uma época má, mudou se em 79 para a Wolf Team, mas
um carro difícil de conduzir e pouco fiável levou a que depois de desistir em
Mónaco, onde se tinha estreado 6 anos antes, anunciasse a sua saída da
competição.
Em 1980 ainda tentou o seu regresso as pistas. A McLaren
pediu para substituir o lesionado Prost mas Hunt pediu um milhão por corrida,
algo que não foi aceite. Em 82 pediu para voltar à Williams mas o seu
rendimento não foi o melhor num teste realizado em Paul Riccard. Nunca mais
pilotou um F1.
Depois de ter desistido da F1 em 79, foi abordado pela BBC para fazer comentários aos GP de F1, juntamente com Murray
Walker. A parceria seria muito difícil, com um Hunt ao seu estilo, irreverente
e pouco dado a regras e com um Walker com uma postura de gentleman
completamente oposta a Hunt. Muitos dos comentários de Hunt são míticos, pois
não se coibia de dizer o que pensava em directo e sem eufemismos. Ainda hoje esta dupla de comentadores é recordada como uma das mais marcantes.
Morreu em 93 devido a um ataque cardíaco em sua casa, aos 45
anos.
James Hunt marcou uma era da F1. O seu estilo irreverente
causava ódios e paixões ( foi considerado por alguns o pior campeão do mundo de
sempre pelo seu feitio difícil). O seu charme fez dele o “James Bond” da F1 (algo
retratado de forma muito criativa pelo Tooned da McLaren). As histórias à volta
de Hunt são mirabolantes. Diz-se que 2 semanas antes do GP do Japão, onde ser
sagraria campeão, tinha se fechado num quarto de hotel com 33 hospedeiras de
bordo, com Barry Sheene seu amigo que competia nas 500cc.
E depois de se sagrar campeão
voou para Inglaterra, onde continuou o festejo durante 12 horas chegando ao
destino perdido de bêbedo encontrando-se com a sua companheira no aeroporto . O sexo e as drogas eram uma constante. Muitas vezes
aparecia a fumar ou a beber antes das corridas. Diz-se que não prescindia do
sexo pouco antes das corridas tendo sido inclusive apanhado por Patrick Head com as calças nos tornozelos, minutos antes da largada. O
seu ritual era completado ao vomitar as drogas e o álcool antes de entrar para
o carro. Para além das mulheres que conquistava com uma facilidade tremenda, o
seu temperamento impetuoso levava o a entrar em sessões de pancadaria com frequência.
No mesmo GP do Japão, pensou ter perdido o campeonato devido a confusão nas boxes e foi em direcção a Teddy
Mayer, chefe de equipa, para acertar contas com ele por ter tido uma má opção
estratégica. Felizmente soube que tinha sido campeão antes de chegar a vias de
facto.A sua rebeldia levava a que aparecesse em cerimónias de gala
com jeans e t shirts e fosse consequentemente criticado pela falta de respeito. No seu fato tinha um autocolante que dizia “Sexo. O pequeno-almoço
dos campeões”.
Mas Hunt era mais do que um figurão. Era um piloto
talentoso. Rápido, destemido, agressivo, que temia morrer em pista mas que nunca teve
medo de ir ao limite. A combinação Hunt com o carro M23, fez tremer toda a
gente e demorou muito até a McLaren voltar a reencontrar o rumo das vitórias. E
só com Mansel voltaria a haver um britânico campeão do mundo.
Hunt marcou uma era. Criou um estilo novo. O Bad Boy, que
nada teme, que aproveita a vida ao maximo e que vai para a pista com tudo. Kimi Raikkonen, grande admirador de
Hunt é provavelmente neste momento o ultimo piloto a usar essa forma de estar
na F1.
Todas as histórias à volta de James Hunt fazem dele uma
figura mítica das pistas, numa altura em que “ o sexo era seguro e pilotar era
perigoso”. Mas Hunt foi acima de tudo um apaixonado pela velocidade e pela
adrenalina, que viveu a vida ao limite. Curiosamente morreu pouco tempo depois
de ter largado os vícios e de ter iniciado uma vida saudável abdicando dos comportamentos de risco e apostado em levar uma vida tranquila. É essa paixão que
deve ser lembrada. É o seu talento que deve perdurar ao longo dos tempos. "Hunt
the Shunt" foi sem duvida um dos mais especiais pilotos a correr na F1.
Tributo a Hunt:
Fontes:
f1.com
Fotos:
retiradas da internet.
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