quarta-feira, 18 de junho de 2014

Circuito de Vila Real - Muita história para contar.

Traçado antigo a vermelho comparado com o traçado recente.
O circuito de Vila Real está de volta. Depois de 4 anos de interregno, a mítica prova nortenha está de volta aos calendários das provas do desporto motorizado nacional. O circuito de Vila Real tem uma história rica, que remonta a 1931, quando a paixão pelos carros de Aureliano Barrigas impulsionou a criação de uma prova de velocidade integrada nas festas da cidade.

7.150 Km, 20 voltas e 10 pilotos presentes na primeira prova vilarealense, que seria ganha por Gaspar Gameiro. Já antes da criação do Circuito de Vila Real, as gentes de Trás os Montes mostravam muito entusiasmo pelos motores. Foi feito o “Circuito de Trás os Montes”, cuja primeira edição teve 60 km e a segunda, 370 Km, percorrendo Chaves, Mirandela e Vila Real. Eram também habituais corridas de motos e gincanas.

O Circuito de Vila Real continuaria até 1939, ano em que foi interrompida devido ao começo da IIª Grande Guerra. Apenas 10 anos depois Vila Real voltaria a receber a prova de automobilismo. Nova interrupção de 1953 a 1958 para obras de reestruturação do circuito, com a implementação de um novo traçado, mais reduzido. Foi sol de pouca dura, pois apenas nesse ano se realizaram as provas, ocorrendo nova interrupção até 1966.

Nesse ano é criada a “Comissão Permanente do Circuito de Vila Real”, que ficou encarregue de organizar a prova, o que fez de 66 a 73. Foi a época de ouro do circuito, com grandes nomes e grandes máquinas a percorrerem o traçado vilarealense, levando a que fosse considerado o melhor circuito português e um dos melhores da Europa, aclamado por pilotos, mecânicos e fãs. Várias provas ficaram para a história do desporto motorizado nacional como as 6H de Vila Real. Vila Real era a capital do desporto automóvel de Portugal.

As edições de 70, 71 e 72 foram um sucesso, mas a crise petrolífera e a revolução de Abril levaram a nova interrupção em 73, que apenas terminaria em 79, quando voltaram a realizar corridas, embora não com a afluência de outros anos. As edições de 80 e 81 verificaram um interesse cada vez maior em volta das provas em Vila Real e em 82, com a primeira prova do campeonato nacional de velocidade, o circuito voltava a respirar as emoções vividas nos anos 60. Até 1991 as corridas mantiveram-se, até que nesse fatídico ano, um acidente grave levou à morte de 4 espectadores para além feridos, o que levou à suspensão das corridas.

Foi em 2007 que as corridas regressaram à capital transmontana, com a organização do 40º Circuito de Vila Real, que tinha como grande objectivo homenagear o campeão Manuel Fernandes falecido em 2005. Em 2008 as corridas voltaram a Vila Real integradas no programa das festas da cidade e continuaram em 2009 e 2010. Na última edição notava-se um claro desinvestimento por parte dos pilotos devido às dificuldades financeiras que o desporto automóvel sofria.

Finalmente em 2014, o circuito vilarealense está de volta, e com um fôlego renovado. A pista está a ser modificada e a vontade de tornar o circuito internacional não é só conversa pois está a avançar a bom ritmo e estão reunidas as vontades para que Vila Real possa reviver em breve os glorioso anos 60, em que os pilotos acabavam Le Mans e vinham directamente para as encostas do Marão para correr no magnífico traçado.

São tantas histórias e tantos nomes que passaram por Vila Real: "Nicha” Cabral,  Ronnie Peterson, Giannone, David Piper, Stirling Moss MANUEL FERNANDES, Pêquêpê, Ni Amorim, Mário Silva, António Rodrigues, António Barros, Jorge Petiz, Joaquim Moutinho, António Carreira, Fernando Peres, Sidónio Cabanelas e os mais recentes César Campaniço, Joaquim Jorge e Pedro Salvador, o actual detentor do record do traçado e nas motos Angel Nieto, Carl Fogarty, Joey Dunlop. Uma lista (incompleta) de nomes nacionais e internacionais que brilharam em Trás os Montes. Lutas fenomenais, máquinas lindíssimas. Um historial que dificilmente se encontra noutro circuito do país.

Claro que o circuito teve as suas páginas negras, que também ficaram marcadas, mas sobre essas apenas recordamos que ela existem mas não nos alargaremos, pois afinal o que interessa é mostrar que Vila Real tem história, tem tradição e tem a paixão necessária para se tornar de novo numa referência a nível nacional e internacional.

É verdade que o panorama nacional ainda não é o melhor e ainda há muito trabalho para fazer, mas temos sinais animadores. O campeonato de velocidade está de volta em força depois de uns anos de menor fulgor e os pilotos responderam em grande número à chamada de Vila Real. São cerca de 200 pilotos que estarão presentes no próximo fim-de-semana e que irão percorrer os 4.6 Km do novo traçado que mantém a espectacular recta de Mateus, uma das rectas mais lindas do calendário nacional e quem sabe internacional.

Há muita coisa que mudou desde a primeira corrida até aos dias de hoje. Mas há algo que se mantém inalterado… a paixão pelo desporto automóvel e pela competição. É algo que está na matriz de Vila Real. Algo que teima em se esconder ciclicamente e até a ser esquecido de vez em quando, mas que no fundo está enraizado nas pessoas que querem as corridas. E que vibram com elas. Que este novo fôlego possa trazer estabilidade e que o Circuito de Vila Real se possa manter, crescer e voltar a ser um dos melhores.





Fotos:
retiradas de google.pt


Fábio Mendes

1 comentário:

  1. O mapa que apresentam tem diversos erros.
    1. O percurso a vermelho é o original, mas só foi usado até aos anos 1960 (ou finais dos anos 1950, não tenho a certeza). Assim que a Avenida Marginal (#6) foi construída, o circuito passou a ser por aí,
    2. O #5 está errado. O circuito nunca passou por aí (Rua do Corgo), mas pela rua ao lado (Rua Sargento Pelotas). A passagem por aqui só ocorreu em 1951, porque a ponte metálica estava em obras.
    3. O percurso alternativo de 1951 passava antes pela Rua da Guia (que começa onde está o "Dr." da Rua Dr. Augusto Rua), atravessava a Ponte de Santa Margarida, subia a Rua Sargento Pelotas e a Rua do Prado (inclinadíssima), seguindo, já de volta ao circuito habitual, pela Rua Miguel Bombarda e depois pela Rua Cândido dos Reis. (Ainda não existia a Marginal.)
    4. Penso que o circuito nunca passou pelo Largo de São Pedro (troço a verde acima do #4).
    5. Não é Timpaira, mas Timpeira. (OK, quem fez o mapa é estrangeiro...)
    6. A rua assinalada como Rua da Araucária não se chama assim (nem a Araucária é ali). Chama-se, sim, Recta de Mateus.
    7. O percurso a azul não foi iniciado nos anos 1980, longe disso. Até 1991 (quando se deu um trágico acidente com vários mortos), o percurso era o vermelho (a menos do troço #6). A variante a azul (que é a actual) só foi "inventada" com o renascimento do circuito, en 2007.

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