quarta-feira, 19 de março de 2014

100kg/h de combustivel. A nova regra que tramou Ricciardo.

A surpresa foi geral quando a FIA anunciou a desclassificação de Ricciardo do GP da Austrália, perdendo o 2º lugar (ainda não é certo que a decisão seja definitiva, pois depende do recurso da Red Bull).

Segundo a FIA, a Red Bull violou a regra que diz que o fluxo de combustível não pode ultrapassar os 100Kg/h.

Explicamos no resumo, que a Red Bull tinha tido problemas com o sensor fornecido pela FIA, com leituras diferentes nas sessões de treino. Como a Red Bull deixou de confiar no sensor, usou outro modelo de cálculo de fluxo de combustível, sem autorização da FIA. A Red Bull ainda foi avisada que estavam acima do limite previsto nas regras, mas não ligou à recomendação da FIA e continuou. Resultado final? Desclassificação do seu piloto.
Segundo parece, estes problemas com os sensores já eram conhecidos nos testes e a FIA deu directrizes às equipas para evitar problemas com o dito sensor, não abdicando do seu uso.

Antes de mais, referir que o combustível é medido em Kg pois o volume varia muito, mas a massa de combustível é constante, como tal é mais preciso medir assim.

Mas afinal o que significa isso dos 100 Kg/h de fluxo de combustível?

Basicamente é uma forma de obrigar os motores a serem mais eficientes. É certo que o bloco do motor é mais pequeno e que o turbo ainda ajuda mais. Mas sem esta regra os motores poderiam ser injectados com mais combustível, o que implicaria explosões maiores, mais potência, mas o objectivo de tornar a F1 mais eficiente seria comprometido.

Um exemplo que permite explicar o porquê desta regra:
Imaginem que hipoteticamente um carro está com um fluxo de 60 Kg/h a certo ponto da corrida (não faço a mínima ideia se este numero é sequer possível ou recomendável, mas para entender a regra penso que servirá). Ou seja, o carro vai poupar bastante combustível nessa fase. Se esta regra não fosse imposta, significaria que a certo ponto da corrida, o carro poderia ter um fluxo de 120Kg/h ou mais. O que implicaria mais combustível injectado e mais potência. Como tal o motor não teria de ser tão eficiente, apenas teria de se poupar combustível até o ponto chave da corrida, onde os engenheiros aumentariam a quantidade de combustível injectada. Mais ainda, em qualificação as equipas poderiam usar um maior fluxo de combustível para conseguir as poles. Assim, com um fluxo definido, as equipas são obrigadas a melhorar a eficiência do motor para ter melhores performances.

Muitos poderão dizer que é uma regra desnecessária e que só vem tirar potência e espectacularidade aos motores. Afinal qual é a piada da F1 se não tiver motores potentes?

Somos completamente a favor de motores potentes e ruidosos na F1. Mas se estas imposições não fossem feitas pela FIA, a F1 andaria com os V8 2,4L. E quantos de nós se pode dar ao luxo de ter um V8 2,4 em casa? Mais ainda, não é bom ter um carro que, para além de poupado, permite também diversão quando castigamos o acelerador?

O que a F1 está a fazer é obrigar os melhores engenheiros mecânicos do mundo a criar um motor pequeno, eficiente e potente, para que essa tecnologia possa posteriormente ser usada por toda a gente. Uma combinação que há alguns anos não era possível. Se esta regra não fosse imposta, ninguém iria evoluir os V8 (que já estavam no topo da sua evolução). Estas novas regras vão poder permitir que no futuro próximo se compre um carro com um motor do tamanho de uma caixa de rebuçados, que seja capaz de desfazer os pneus, sem que no entanto nos levem a casa com os impostos e com os gastos em combustível. Mais ainda, esta poupança de combustível permitiria que os nosso amados motores V8 e V12 ainda pudessem circular por mais tempo.

Estes motores têm apenas o problema de ser pouco barulhentos para a F1. Para um carro de estrada, não está nada mau.Mas admito que a F1 precisa do drama de um motor barulhento que imponha respeito. Não me importo com o tamanho do motor, desde que permita andar a grandes velocidades e que quando passe provoque arrepios. É um elemento que deveria ser tratado e com relativa urgência.

O que a F1 está a fazer é criar novas vias para o carro do futuro. Quem segue a série Top Gear, teve a oportunidade de ver o Porsche 918 Hybrid. Um carro com uma potência tremenda, mas que a nível de emissões é comparável a um Prius. E isso é o futuro. Um carro criado para a pista, mas que é capaz de ser mais suave para o ambiente que um carro feito para ser "ecológico".

Não nos podemos esquecer que os recursos da Mãe Terra são finitos. E se quisermos ter a diversão e o prazer de conduzir um carro, temos de poupar os recursos, para o podermos fazer ainda por muitos e bons anos. Já conseguiram extrair 600cv de um motor tão pequeno. Obriguem os génios da F1 a puxar pela cabeça e a fazerem coisas que vamos necessitar no futuro. Eles que criem formas de termos carros excitantes e que nos permitam ter tanto ou mais prazer de conduzir, do que com os actuais, sem que no entanto façamos mal ao urso polar. A F1 não vai perder a espectacularidade ( há quem duvide ainda destes novos carros, mas é quase certo que serão tão ou mais rápidos que os anteriores) e todos vão ficar a ganhar. A F1 não é só a categoria rainha do automobilismo. É também o pináculo da tecnologia. E o caminho para o futuro é este.



Fontes:
jamesallenonf1.com
f1fanatic.co.uk
racecar-engineering.com
autosport.com


Fábio Mendes

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