quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

F1 2014 - Perguntas e respostas.

Que expectativas traz esta nova temporada?

Antes de mais é muito difícil fazer previsões do que se vai passar este ano. Esta temporada tem tudo para ser interessante e competitiva. As mudanças nos regulamentos implicam mudanças profundas nos carros e isso poderá nivelar um pouco mais a competição e permitir que equipas do meio da tabela possam dar um salto em frente. A ideia seria sempre retirar a superioridade da Red Bull e aproximar outras equipas do topo de forma a tornar a modalidade mais interessante. Penso que isso será conseguido. As expectativas que tenho para esta temporada são claramente positivas. O início poderá ser algo confuso e pouco ortodoxo mas há condições para ter um campeonato muito bom.


O que mudará verdadeiramente na F1 esta temporada?

Muda muita coisa. Desde os motores, que agora têm turbo e um funcionamento mais parecido aos motores híbridos, aos chassis dos carros que, agora têm menos apoio aerodinâmico que no ano passado, às regras (já não haverá "drive through", apenas 5 segundos de penalização, o que é uma boa medida). Já não se via uma revolução tão grande na F1 há muito tempo. Mas o que interessa verdadeiramente e o que vai mudar pelo menos nestas primeiras épocas é a competitividade. Estas mudanças permitem uma espécie de começar do zero. Obviamente que as equipas grandes terão sempre alguma vantagem, mas as equipas do meio da tabela terão mais uma palavra a dizer, assim possam desenvolver um bom trabalho. É uma oportunidade de ouro para crescerem.



A Red Bull dominará de novo mais uma temporada?

Este ano está fora de questão novo domínio da Red Bull. As mudanças são demasiado profundas para que isso aconteça. E os testes de Jerez vieram mostrar que não só o domínio não se verificará, como a Red Bull tem muito trabalho pela frente para voltar ao nível que tinha. É provável que a Red Bull melhore e muito, até ao final do ano e ainda tenha uma palavra a dizer no campeonato, mas o domínio avassalador do passado é algo que não se verificará este ano e provavelmente nos próximos anos.


Qual a equipa/piloto que poderá fazer frente ao domínio da Red Bull?

Há duas equipas que esta época poderão tomar o lugar da Red Bull. Mercedes e Ferrari. Serão provavelmente os grandes candidatos ao título este ano. A McLaren entrará neste lote a partir de 2015, com os motores Honda, mas para já e embora tenham começado de forma muito positiva o ano, 2014 trará muito trabalho de preparação para a mudança de motor, o que vai pedir muito tempo e dificultará a gestão da equipa. Como tal a Mercedes e a Ferrari apresentam-se como as fortes candidatas. Mas se tiver de escolher uma equipa, é a Mercedes. O trabalho de base está a ser feito já há algum tempo, a dupla de pilotos já trabalhou no ano passado. Tudo está mais encaminhado do que na Ferrari, que tem muita gente nova. A minha aposta vai para a Mercedes. Quanto aos pilotos, Raikkonen e Alonso são os melhores que temos no grid. Qualquer um deles poderá tomar o lugar de Vettel. Mas mais uma vez, como estou a apostar numa grande época da Mercedes, Hamilton é a minha escolha para suceder este ano a Vettel.


Qual será a maior surpresa da temporada e a maior desilusão?

É difícil avaliar assim com os poucos dados que existem, mas a Williams e a Force Inda têm tudo para fazer uma excelente época. Pessoalmente, vejo a Force India como grande candidata a surpresa do ano. Bons pilotos, projecto ambicioso. Penso que será uma agradável surpresa. Pela negativa vejo a Lotus a apresentar-se como a desilusão do ano. Muitas saídas de pessoal importante, uma dupla de pilotos que não dá garantias. É com pena que vejo este retrocesso da Lotus. Espero estar enganado.


Tony Fernandes já veio dizer que este será um ano decisivo para a equipa, e senão conseguir uma boa evolução nos resultados poderá abandonar a F1. Achas que a equipa dará o tal “salto” nesta temporada?

Antes de mais, penso ser injusto para uma equipa como a Caterham ter a pressão colocada neste ano, em que tanto mudou. De qualquer forma, isto mostra que o dinheiro é pouco e que os resultados têm que aparecer. A Caterham, pelo que investiu, deveria ter já outro nível. Penso que pelo menos conseguirão ficar à frente da Marussia. O 10º é a minha previsão. Não sei se é este o salto que pretendem mas ainda assim penso que é o objectivo possível para a equipa malaia.


Dupla Alonzo/ Raikonen, terá sucesso ou os “egos” levarão aos conflitos internos?

Toda a gente está a espera que aconteça uma luta de egos dentro da Ferrari. A verdade é que temos os 2 melhores pilotos do grid, na mesma equipa e que nenhum quererá deixar os créditos por mãos alheias. Mas ambos os pilotos já passaram a casa dos 30 anos. A experiência e a maturidade permitirão uma gestão de emoções diferente do que seria há uns anos atrás. Se esta dupla acontecesse há 5 ou 6 anos atrás, seria um barril de pólvora, mas tendo em conta a maturidade dos dois pilotos creio que, embora possa haver problemas, não atingirão a proporção que muitos esperam. Como tal quem fica a lucrar é a Ferrari que tem uma dupla de sonho. Muitas probabilidades de sucesso. Será tanto ou mais interessante ver por exemplo a dupla Perez/Hulkenberg, pilotos jovens com muito para mostrar.


O que podemos esperar da Williams? Terá carro para regressar aos lugares cimeiros?

Da Williams podemos esperar um ano muito melhor que o ano passado, o que é fácil. A luta pelos lugares da frente ainda é difícil, mas acredito que este ano possam voltar ao top 5. Claire Williams tem feito por melhorar a equipa e tem conseguido. O processo não é rápido, mas está a ser feito de forma gradual e positiva. Penso que daqui por 2 anos ou 3 poderemos voltar a ver a Williams na luta pelos lugares da frente. Este ano, andarão pelos lugares de cima mas ainda não no pódio. Com o departamento técnico remodelado e a adição de Massa ao Line Up, a Williams tem tudo para dar passos certos e definitivos rumo às vitórias.


L. Hamilton, terá condições para ser de novo campeão do mundo?

Tem todas as condições. Tem talento, tem equipa, pelos vistos tem carro e tem a vontade de provar que o título de 2008 não é um acaso. No ano passado esteve mal, mas este ano acredito que poderá estar na luta pelo título. Há vozes que se levantam contra o britânico e que dizem que Lewis é só fogo-de-vista. Tem este ano a hipótese de provar que estão errados e a motivação estará por certo bem alta. É o meu favorito.


E da Lotus, o que poderemos esperar?

Da Lotus não se espera muito. Grosjean tem de confirmar que cresceu e Maldonado tem de mostrar que é piloto de F1. Mas com tantas mudanças creio que este ano será muito difícil para a Lotus. Espero pouco da parte deles. Espero que Grosjean continue a mostrar que tem qualidade. É dos poucos aspectos positivos que espero ver.


K. Magnunsen estará preparado para entrar na F1 numa equipa como a McLaren?

Magnussen é como o algodão…não engana. É piloto da cabeça aos pés. Tem um talento enorme. E tem a sorte de entrar numa McLaren em mudança. Ou seja, mesmo que este ano corra mal, o dinamarquês tem tolerância, pois a partir de 2015 é que o jogo se torna sério. Ainda assim terá de mostrar o que é capaz este ano e não ser displicente. Se está preparado? Penso que sim. O início poderá ser difícil mas quando se habituar ás corridas num F1 brilhará e muito.


Quanto ao caso polémico da escolha do piloto russo D. Kvyat para a Toro Rosso, será este jovem piloto um “erro de casting” ou vai mostrar que de facto tem qualidade para estar na F1?

Creio que é um erro. O russo tem talento, mas a experiência também é importante. E Kvyat não tem assim tanta experiência. E fazer voltas contra o crono é uma coisa, lutar com outros pilotos é outra. Félix da Costa tinha muito mais condições de se afirmar. Vai demorar tempo até o russo mostrar qualidade.


Após os primeiros testes, está mais ou menos ultrapassado o medo do “som” destes novos motores 1.6L V6. 

Sem dúvida. Assusta mais o aspecto dos carros do que o som do motor. Embora não seja tão vibrante como os antigos V8, penso que os novos motores cantam bem e não será pelo seu som que o espectáculo fica comprometido.


Achas que poderemos ter de novo uma nova “era” onde a mecânica e a condução será mais importante, ou a aerodinâmica continuará a ser decisiva?

É difícil voltar a uma F1 onde a mecânica volte a ter primazia sobre a aerodinâmica. Seria uma forma de voltar a nivelar as coisas para todas as equipas e tornar a modalidade mais emocionante, mas seria um retrocesso de 20 anos e o caminho da F1 não deve ser feito andando para trás. Há outras formas de tornar a F1 competitiva e emocionante, sem termos de regressar à tecnologia dos anos 80/90. Basta que as pessoas que mandam na F1 pensem mais nos fãs e menos nas suas carteiras. Quando isso acontecer, teremos a F1 de volta aos tempos gloriosos. Mas não me parece que seja positivo sequer voltar à fórmula passada. O futuro faz-se caminhando em frente.


Achas que a estética destes novos monolugares, afectará o interesse da a F1? As críticas têm sido uma constante às famosas asas dianteiras…

É mais uma coisa que afecta a modalidade. Por um lado fala-se muito dos carros e quer se fale bem ou fale mal, o que interessa é que se fale. Para quem investe dinheiro na F1, foi bom. Para os fãs como nós, foi horrível. É triste ver aqueles carros assim. A parte visual da F1 é tão importante como a parte sonora ou da velocidade. Ninguém compra livros de F1 ou miniaturas quando os carros têm este aspecto. Quem não é fã de F1 vai olhar de lado e gozar. É algo que tem de ser revisto. Mas admito que a F1 não é um concurso de beleza e sim uma prova de velocidade. Se as corridas forem emocionantes os narizes ficarão para segundo plano. Mas nada custa juntar a competitividade à estética


A pontuação a dobrar na última prova lançou polémica no seio do grande circo. Qual a tua opinião sobre essa medida?

Não é a melhor opção mas não me choca. É uma forma de maquilhar o fosso entre as equipas e de tornar as últimas corridas mais emocionantes. É também uma medida que visa encher mais os bolsos ao "tio" Bernie. Mais uma vez prevaleceram os interesses de quem manda, em vez de se pensar no bem da modalidade. Há outras formas de tornar a modalidade atractiva outra vez. Mas ainda assim, não vejo que seja um desvirtuar da F1, como se disse por aí. As regras estão estabelecidas e as equipas têm de se adaptar a elas. Não é suposto ser fácil para as equipas. É suposto ser competitivo e agradável para os adeptos. Como tal, não sendo a melhor solução, aceito que possa ter efeitos positivos.


A Formula 1 está a ser “invadida” por pilotos pagantes. Qual a tua opinião acerca disso.

A grande maioria dos pilotos paga para andar na F1. Quase todos têm patrocínios que ajudam a entrar nas equipas. Isso será difícil de mudar. O que me irrita é que certos pilotos sem qualidade nenhuma, entram na F1 ou ficam com um lugar que não deveria ser deles. A F1 só devia ter os melhores dos melhores. Nada menos que isso. Como tal deveriam ser arranjadas soluções para que os pilotos com menos talento não tenham vagas garantidas, apenas por terem os bolsos mais fundos. Mas acredito que isso terá de ser feito com uma mudança de filosofia das equipas e da própria F1. O dinheiro está a dar cabo da modalidade. Deveria ser encontrada uma forma de conciliar os pilotos que embora com muito dinheiro, não tem talento para rodar na F1 e os pilotos que verdadeiramente merecem estar no grande circo. A categoria rainha do automobilismo não se pode dar ao luxo de ter pilotos mais fracos que modalidades inferiores.


A. F. da Costa terá ainda hipóteses de entrar na F1 esta temporada, terá de esperar mais um ano ou o sonho terminou de vez?

Félix da Costa foi um dos prejudicados pelo facto de outros pilotos com mais dinheiro, embora com menos talento, permanecerem na F1. A escolha de Kvyat foi claramente por motivos políticos e financeiros. Em termos de talento o nosso Félix da Costa é do melhor que existe. O sonho tornou-se mais difícil, mas não impossível. Ainda há hipóteses, caso Vergne ou mesmo Kvyat não rendam o que se espera deles. A Red Bull não investiria num piloto que não tivesse reais hipóteses de subir para a F1. E acredito que este ano, Félix da Costa possa ter uma hipótese de subir à F1. Creio que Vergne está por um fio e se continuar mostrar tão pouco como no ano passado, o lugar é do português. De qualquer forma tem o DTM, que está fantástico este ano e é muito competitivo e mesmo que tenha azar e saia da estrutura da Red Bull, no futuro haverá equipas interessadas nos seus préstimos. Quando se tem qualidade, embora possa ser difícil, há sempre hipótese de conseguir o seu sonho. E o nosso Formiga tem talento para dar e vender. Acredito que o vamos ver a competir num F1.


Para ti quem vai ser campeão do mundo este ano?

Sendo extremamente difícil fazer qualquer tipo de previsões, aposto na Mercedes e em Hamilton para vencedores do campeonato.


Faz o teu top 3 para esta temporada. De pilotos e construtores.

Numa época tão diferente e com tantas mudanças tudo pode acontecer e as apostas podem ser erradas (e no fundo todos esperamos que sim, pois significaria que a F1 está imprevisível). Apenas é a minha opinião, segundo o que se vai vendo na F1. E a F1 é conhecida por não seguir uma lógica definida. Mas para pilotos, penso que o top 3 será Hamilton, Alonso e Raikkonen. Nos construtores, o meu top 3 será Mercedes, Ferrari e McLaren. A Red Bull vai passar por momentos de aperto e Ricciardo não deverá ter capacidade de ajudar a equipa a trazer tantos pontos como fazia Webber. Mas será um ano cheio de incertezas, que valerá bem a pena seguir com atenção.


Perguntas:
Carlos Mota

Respostas:
Fábio Mendes

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