quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Pontos a dobrar na última prova do ano - A nossa opinião.

Estalou a confusão no reino dos fãs da F1. A FIA resolveu fazer das suas e colocar na ultima corrida do ano um multiplicador de pontos. Assim os pontos da ultima prova passam a ser a dobrar.
É necessário avaliar esta decisão por dois prismas.

O 1º é a parte desportiva.

A F1 tem tido uma falta de emoção que começa a ser preocupante e era necessário alterar a situação de forma a que isso mudasse. A FIA achou por bem alterar a forma de atribuição de pontos.
Será bom? 

No ponto de vista da espectacularidade e emoção, pode de facto trazer algo mais. Assim uma distância de 49 pontos pode não ser fatal e poderá dar ainda uma vitória no campeonato.

Do ponto de vista da verdade desportiva é mais complicado. Os pilotos poderão sentir se prejudicados, pois um piloto que vença uma corrida, recebe o dobro de pontos que recebe um que venceu duas. Mas é necessário ver também que as regras, sendo estabelecidas de inicio, tornam-se a pedra basilar da competição e ninguém se pode queixar. É como aquele conceito que diz que, por a vida ser injusta para todos é que se torna justa. Aplica-se o mesmo aqui.

É verdade que se olharmos para o passado, haverá casos em que seria uma tremenda injustiça. Ascari não teria vencido como venceu de forma justa o campeonato. Lauda não venceria o campeonato em 82. Stirling Moss não teria ascendido à categoria de imortal do desporto, tendo defendido que o seu opositor directo não devia ser desqualificado por uma penalização, perdendo assim o campeonato, ganhando o respeito de todos. Com os pontos a dobrar nada disso aconteceria.

Mas também teria havido mais alguma justiça. Massa teria vencido o campeonato do Mundo, na sua terra natal, tendo vencido o ultimo GP, Raikkonen teria vencido de forma justa em 2003, contra Schumacher e a fiabilidade do seu McLaren, Villeneuve teria vencido de forma justa em 79, não teria sido prejudicado por “ordens de equipa”.

Mais recentemente Alonso teria sido o justo campeão de 2012, tendo conduzido de forma brilhante toda a época, com um carro mais fraco que Vettel e mesmo assim conseguindo levar a luta até ao fim.
“Se não estavam em 1º é porque falharam em algo durante a época logo não mereceriam vencer” dirão alguns. Não se aplica o mesmo conceito caso o 1º classificado perca o campeonato na ultima corrida mesmo sem pontos a dobrar?

Contabilidade geral?

Haveria casos de justiça e casos de injustiça, se essa regra fosse implementada desde início da modalidade. E o que mudaria na F1? O grande circo nunca foi conhecido por ser muito justo.

E vamos ser realistas... Cada mudança que ocorreu na F1 deu pano para mangas. Os arautos da desgraça vieram dar a modalidade como acabada e que estavam a destruir a F1. E a F1 continua aí. Com mais ou menos força, com mais ou menos emoção. Mas ainda temos F1 mesmo com tantas mudanças.

O segundo prisma que se deve ver é o político.

Afinal estas medidas não serão de todo ingénuas. Introduzir um sistema meio americanizado terá como objectivo trazer o público dos EUA. Mas o Nascar é um caso de sucesso. Os americanos têm muitos defeitos mas sabem como dar um bom espectáculo. Se a fórmula resulta para eles porque não tentar adaptar o modelo?

Mas o problema é outro. É que uma ultima corrida a valer o dobro de pontos, significa também que o circuito que a recebe terá o dobro das atenções. E isso equivale a muito dinheiro para Bernie, Todt e companhia. E as pistas árabes já estão a ganhar, pois Abu Dhabi receberá a tal “final” do ano em 2014. Mas onde estão os verdadeiros fãs da F1? Nas arábias? Ou na Europa? Ou no Brasil? No Japão? O problema é que uma corrida destas, deveria estar ao alcance de todos, sabendo que hoje em dia as deslocações e o dinheiro que se gasta não motivam a ir ver ao vivo. Mas ainda assim uma corrida deste género, deveria ser feita onde há mais fãs. Um ano no Brasil, outro na Europa, outro no Japão. E em pistas com história e qualidade. Uma corrida destas, teria de ser ou em Suzuka, ou Interlagos, ou Spa. Os novos circuitos não me convencem, muito menos os do médio oriente.

Mas como o dinheiro é quem mais ordena no grande circo, será complicado tirar a “final” das arábias. E se a FIA cometer o erro de levar a dita final para o Bahrain dá um tiro no pé. A situação lá é complicada e já o facto de a F1 ir para lá não agrada a muitos, imagine-se a tal corrida onde tudo se decide. A mim pelo menos não me agrada nada.

E por fim… Será que a F1 perde a essência por causa desta alteração? A meu ver não. Temos pilotos? Temos. Temos tecnologia? Temos. Temos lutas interessantes? Não muitas. mas assim talvez haja mais. Penso que a essência da F1, ninguém conseguirá retirar. E se a F1 assenta na evolução inteligente dos carros, porque não evoluir o sistema de pontuação? Tornar as coisas ainda mais difíceis para pilotos e equipas. Afinal é disso que se trata. Dificultar-lhes a vida e eles mesmo assim, conseguirem sair por cima. Sempre foi assim na F1 e sempre será.

Há problemas bem mais graves no grande circo... Equipas que se dão ao luxo de ter uma equipa B, o que pode desvirtuar a verdade da competição. Directores de equipa que têm acções de outras equipas. Pilotos pagantes sem qualidade. Esse sim são problemas que merecem atenção e devem ser resolvidos... mas que se mantêm ao longo dos tempos e não acabar com a modalidade.

O que pode de facto acabar com a essência da F1 e pode acabar com a F1 é a falta de interesse, a falta de público. Isso sim acabará com a modalidade que tanto gostamos. Uma corrida que vale o dobro em que os 4 primeiros da tabela podem ainda ser campeões? Desculpem mas eu dava uma vista de olhos mesmo que não ligasse nada a isto.

A F1 é muito mais que regras impostas por gente que quer cada vez mais dinheiro. A F1 é feita de histórias de superação, de inovações tecnológicas, de mentes brilhantes e de talentos enormes ao volante de máquinas maravilhosas, que souberam vencer as regras impostas, até as mais injustas. Não é a troca de pontos que vai abalar isso.





Fábio Mendes

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