terça-feira, 30 de abril de 2013

O fim de um sonho (parte 1). O fim-de-semana mais negro da F1

Já dizia António Gedeão, que o sonho comanda a vida. É a possibilidade de concretizar o sonho que nos acompanha e que nos faz lutar. Que nos faz sair da cama pela manhã cedo, que nos faz lutar com todas as forças para que ele se torne possível. 

A conquista de um sonho não é fácil nem rápida. Antes pelo contrário, é um processo demorado e muitas vezes ingrato. São por isso admiráveis as pessoas que lutam sem parar e que nunca desistem até atingirem o seu objectivo. Nem todos têm a força mental para o conseguir.
O mundo está cheio de histórias de pessoas que deram tudo que tinham para atingir o que sempre sonharam.
 
A 4 de Julho de 1960, em Salzburgo, nascia Roland Ratzenberger. Os anos passaram e ele começou a imaginar o seu sonho. Ser piloto de Formula 1. Quem nunca sonhou conduzir um carro daqueles a grandes velocidades. Quem nunca sonhou ir para o pódio e espalhar champanhe por toda a gente. Muitos provavelmente. Mas Ratzenberger quis que isso se tornasse realidade. E como tal tentou.

A sua carreira no desporto motorizado começou em 1983, na Formula Ford alemã. Em 85 ganhou o campeonato austríaco e da Europa central de fórmula Ford. 

Em 1986 ganhou o festival Brands Hatch e na época seguinte passaria para a Fórmula 3.

Em 1987 participou em algumas corridas do World Touring Car Championship, num BMW M3 e em 88 no British Touring Car Championship também com um M3. 

1989 seria o ano da sua entrada na Formula 3000. No mesmo ano participaria nas 24h de LeMans onde participou até 1993.



Participou também no Japanese Sports Prototype Championship.
Em 1994 finalmente, conseguiu atingir o seu objectivo de ser piloto de F1, assinando um contrato de 5 corridas com a Simtek, uma equipa nova no paddock.

O seu sonho tornava-se realidade. Tinha chegado à Formula 1. A categoria máxima do desporto automóvel. Mas com um contrato de apenas 5 corridas, o austríaco teria de mostrar o seu valor depressa, para não deixar fugir a oportunidade entre os dedos. E a consequente pressão era enorme. Uma vez num sonho, não se quer sair de lá e ele não era excepção.

Na sua 1ª corrida em Interlagos não se conseguiu qualificar para a corrida. A 2ª corrida no Japão conseguiu um 11º lugar devido a sua experiência na pista de Aida.

No grande prémio de San Marino, na pista de Imola, tentando a sua qualificação para a corrida, Ratzenberger teve uma saída de pista, danificando a sua asa dianteira. Ao invés de regressar as boxes, o austríaco tentou outra vez uma volta para conseguir a qualificação. Na entrada da curva Villeneuve, a asa danificada parte-se e aloja-se debaixo do carro, fazendo com que o piloto perdesse o controlo, embatendo na parede a 314 Km/h, provocando a sua morte.
O seu sonho terminava ali de forma violenta e brutal.
A sua morte foi em parte esquecida por toda a gente, pois no dia a seguir seria o Grande Senna a morrer em pista. Mas a morte de Ratzenberger deixou um legado importante. Durante o "briefing" antes da corrida, os pilotos acordaram entre si reformular a associação de pilotos, com Senna, Berger e Schumacher como directores. A associação tinha como objectivo pressionar as autoridades competentes para melhorar a segurança dos carros e das pistas, evitando assim mortes como a que tinha ocorrido.

Em 2003 a FIA tornou obrigatório o uso do sistema HANS (que se vê na parte traseira dos capacetes aqui à direita) para evitar assim ferimentos como os que sofreu Ratzenberger.

O sonho breve de Ratzenberger foi a prova que às vezes, a vida prega-nos partidas demasiado severas. Com apenas 3 corridas, o austríaco mal teve tempo de saborear a sua vitória ao chegar a F1. Nunca ninguém saberá se seria mais um piloto a passar por lá, ou se conseguiria vingar e mostrar o seu valor. E isso também não interessa. O seu sonho, que o levou à morte, deixou algo que é de inestimável valor. O legado. Embora com um papel passivo, foi o seu final trágico que fez lembrar as pessoas que o piloto é mais que um gladiador, que põe a sua vida em risco de cada vez que se senta atrás de um volante. O piloto é um homem como todos nós, com família, amigos. Pessoas que não o querem ver partir. E como tal é necessário protege-los. Nós também preferimos ver todos os pilotos sair ilesos, prontos para no próximo fim-de-semana lutarem entre si.

Não queremos mais um fim-de-semana como o de Imola.

Fica aqui a nossa pequena homenagem a Roland Ratzenberger. 



Fábio Mendes

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