terça-feira, 26 de março de 2013

Memórias de Richard Burns



Estamos a menos de duas semanas do “Fafe Rally sprint”, e com ele as memórias de outros tempos surgem nas nossas cabeças. Não podíamos passar esta data sem recordar grandes nomes que por aqui passaram.

Há um ano em Fafe, tudo se aprontava para o regresso das máquinas do WRC ao mítico troço. Faltavam 2 dias para o evento, e já havia pessoas acampadas na zona do “Confurco”. Na manha de 5ª feira, 22 de Março, a passagem de asfalto do troço de Fafe acorda com 3 nomes escritos no chão... Burns, Toivonen e McRae. Foi a simples e bonita forma daquela multidão apaixonada homenagear quem por aqueles lados um dia brilhou, e hoje já não se encontra entre nós. Três pilotos fantásticos que, cada um por razões diferentes partiram cedo demais desta vida, deixando para trás muita saudade e uma legião de fãs que fazem questão de não os esquecer. 

Hoje vou falar de Richard Burns. Tentarei expressar da melhor forma as emoções, não sendo tarefa fácil. Recordar este tremendo piloto traz as lágrimas aos olhos. Foi sem dúvida um dos pilotos que me fez apaixonar por ralis, e que me enche de saudades dos tempos em que ele fazia magia ao volante de todos os carros que pelas suas mãos passaram. Burns, tu eras simplesmente fantástico!


Quanto a mim, Richard Burns, foi um dos melhores e mais completos pilotos que a história dos ralis viu. Burns unia irreverência, calma, rapidez a espectacularidade. Do rosto fechado da prova, ao sorriso fácil para todos os que o abordavam. Burns, deixou-nos em 2005 com apenas 34 anos, após ter sido detectado um tumor cerebral em 2002. Infelizmente Richard perdeu esta etapa.


Richard Burns nasceu em Reading, arredores de Londres, em 1971. Seguindo a tradição inglesa, o jovem Burns também era um apaixonado pelos ralis, e aos 15 anos de idade tirou a licença de piloto, num curso de pilotagem no Pais de Gales. As primeiras provas foram ao volante de um Talbot Sunbeam, mostrando desde cedo grande aptidão para a arte de pilotar um carro, despertando a atenção de um empresário e antigo piloto, David Williams. Williams, encantado com as qualidades de Burns, financiou a sua participação no Peugeot Challange , ao volante do 205 GTI. O jovem Britânico bateu tudo e todos, vencendo nesse mesmo ano, repetindo a façanha no ano seguinte. 

 

Estreou-se numa prova do mundial de ralis em 1993, no Rally RAC, ao volante de um Peugeot 309 GTI. Antes disso, disputa em 1991 e 1992 o campeonato Britânico, pela Peugeot, despertando o interesse do patrão da Subaru, David Richards que em 1993 lhe concedeu um Lagacy, onde se sagrou campeão Britânico e ao mesmo tempo conseguiu ser o 3º piloto da marca nipónica, ao lado de McRae e Carlos Sainz. 



Em 1994, tem um programa completo no Campeonato Ásia-Pacífico, essencial para o crescimento da marca, conciliando um programa parcial no mundial de ralis na equipa oficial.

Em 1996,  após despertar o interesse de muitas marcas, Burns assina contrato com a Mitsubishi, fazendo equipa com o finlandês, Tommy Makinen. E foi na marca Japonesa que Burns  conquista a sua primeira vitória numa prova do mundial de ralis, na Nova Zelândia ao volante do seu Carisma GT. 

Voltou ainda a ganhar provas do mundial em 1998 no Quénia e em sua casa, na Grã-Bretanha antes de voltar para a Subaru.

Em 1999 David Richards, patrão da Subaru, volta a resgatar o piloto para as suas fileiras, e nesse mesmo ano, Burns sagra-se vice-campeão do mundo de ralis repetindo a posição no ano seguinte. Mas fica com um amargo na boca. Embora o piloto Britânico tenha vencido 14 provas nesses dois anos,( 7 em cada época ), a pouca fiabilidade do seu Subaru Impreza não permitiram a vitória no mundial.

Mas em 2001, essa vitória não fugiria. Burns, sagra-se pela primeira vez campeão do mundo, vencendo apenas um rali (nova Zelândia), que seria infelizmente a sua última vitória.

Em 2002 assina pela Peugeot um contrato milionário, que obrigou a marca francesa a pagar uma quantia astronómica à Subaru pelos seus direitos. Mas as coisas não foram fáceis para Burns, pois o 206 WRC era um carro totalmente diferente de tudo que tinha conduzido ate então. Na primeira época consegue quatro segundos lugares, e o quinto lugar no mundial de pilotos.


Na época de 2003, as coisas melhoraram para Burns, chegando a ultima prova da temporada, o RAC em boas condições para conquistar o seu segundo título mundial de pilotos ,pois já havia ganho esta mesma prova em 1998, 1999 e 2000. Na mesma semana voltou a assinar contrato com a Subaru, a sua marca do coração, o que prometia dar muita animação a época seguinte pois também contava com o recém campeão Petter Solberg.


Contudo Burns, não voltaria a sentar-se ao volante do mítico Impreza. Na viagem para o local do rali RAC, Burns, acompanhado pelo seu amigo, também piloto, o estónio Markko Martin, desmaia ao volante da sua viatura, sendo levado para as urgências de imediato, e ficando proibido de participar no rali, que o podia consagrar de novo como campeão do mundo.

Foi-lhe diagnosticado um tumor no cérebro. Richard Burns lutou durante 2 anos na mais dura “pec” da sua vida, submetendo-se a quimioterapia e radioterapia. Burns, perdeu esta etapa, a 25 de Novembro de 2005 num hospital em Londres, no mesmo dia em que se sagrara campeão do mundo 4 anos antes.

O mundo dos ralis não estava preparado para esta notícia. Eu acabava de perder um dos meus grandes ídolos de sempre, um grande mentor de todos que amam esta modalidade, alguém que me fez vibrar, apaixonar,pelo rali. Que me fez acreditar que é possível chegar aos nossos limites com um sorriso na cara. Um vencedor nato. um homem que nasceu e viveu apenas com um objectivo... Para ser campeão.

Richard Burns passou e deixou a sua marca em Portugal também, vencendo o nosso rali em 2000. O mundo do rali nunca o irá esquecer. E eu nunca irei esquecer tudo o que este grande piloto e grande ser humano ensinou, que mesmo à distancia de uma “tela” me era tão próximo e tão familiar. 

Obrigado Richard, pelas memórias e por tudo que me ensinaste, a mim e ao mundo.




 Rali de Portugal 2000



Tributo Top Gear.




Carlos Mota. 

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